Talvez sempre pareça
ser mais fácil dizer “é preciso ter calma e paciência, pois dias melhores
virão”… Alias, neste período de crises parece que todos aqueles que assumem conviver
permanentemente em crise são os melhores entre os diferentes protagonistas de
grandes realizações.
Porém, a verdade ou a
realidade sempre foi e é mais difícil para aqueles que vivem directamente as
dificuldades, independentemente delas quais forem.
Muito recentemente fui
questionado por uma criança de apenas 4 anos, a mesma pretendia saber quem era
afinal a famosa crise que actualmente estava presente em todas respostas dos
mais velhos. Dizia a criança em
causa; que pediu brinquedos aos pais e estes justificaram não poderem atender o
pedido por causa da crise. Pediu para que a mãe á compra-se um par de ténis novo,
igual ao da filha da vizinha Kuzanga e a mãe alegou não o poder fazer por causa
da crise. Disse também que quando liga a rádio e a televisão lá na casa dela,
entre as vezes que funcionam, isto é, quando não existe a crise da luz, também ouve
com permanência a falarem da Tia Crise naqueles meios de comunicação social. A pergunta da criança
era pertinente, quis saber quem era a Tia Crise e porquê que ela era tão
famosa. O objectivo da criança em questão era poder contactar a tal dita Tia
Crise pois segundo ela, a Tia Crise tinha muito valor pela fama que possuía, e
só ela podia atender os seus anseios neste período de tanta crise que nada que
pedia era atendido.
Como nestas coisas de
teorias por vezes torna-se difícil explicar o complexo como fácil as crianças,
procurei justificar que a crise é um sistema de dificuldades que alguém
vivência, no caso especifico, nós adultos nos referimos na actualidade a crise
económica como sendo as oscilações
em torno de uma média nos níveis de negócios da economia de um
país.Para uma melhor percepção para crianças é oportuno dizer e reiterar que ao falarmos de crise económica estamos a abordar sobre a falta de dinheiro.
Estamos em crise porque não temos dinheiro suficiente para comprar o ténis, os brinquedos, rebuçados, as bolachas etc, retorqui.
- E quanto custa uma crise económica? Qual é valor da Tia Crise?
Voltou a questionar-me a criança em causa.
Bem… Bem… Uma crise económica tem inúmeros elementos que apontam a desestabilização da cadeia produtiva de um país e ameaça levar a falência muitas empresas nacionais. Outrossim, nos próximos meses as perspectivas não são favoráveis para a nossa moeda o Kwanza, já que o dólar continuará em alta e a pressão do mercado sobre o câmbio é forte, o que faz-nos prever uma cotação do dólar em alta. Essa é a demonstração cabal da eclosão da crise e a forte desvalorização da moeda angolana frente à moeda norte-americana o que tem levado muitas empresas nacionais a situação de inadimplência.
Bem, quantificar propriamente o valor da crise é praticamente impossível, mas podemos fazer uma alusão sobre as expectativas das consequências da crise sobre a nossa economia.
Para começar podemos dizer que os tempos de crise são caracterizados como tempos difíceis. Assim poderemos ter como principais consequências da crise global na economia angolana os seguintes aspectos:
1º A queda do crescimento económico geral, medido pelo Produto Interno Bruto “PIB”.
2º Queda das importações. Como dependemos maioritariamente das importações, a baixa do preço do petróleo afecta directamente na entrada de divisas, prevendo-se desta forma o acentuar do déficit na balança comercial. Entenda-se que vamos gastar mais na compra, na importação, do que receberemos nas vendas, nas exportações.
3º Queda na taxa de investimento das empresas e do governo.
4º Diminuição dos volumes de capital disponível para crédito aos consumidores, e também para as empresas fazerem investimentos.
5º Aumento do desemprego. Isso provocará uma queda da renda, fazendo com que toda a classe trabalhadora tenha sua renda média diminuída, seja pelos salários mais baixos, seja pelo desemprego que afectará as famílias, seja pela falta de crescimento da economia em geral.
6º Outro aspecto bastante nocivo também será o aumento dos preços dos alimentos, que vão subir (alias já tem subido) mais rápido com a crise, por vários factores. Tal situação deve-se ao facto de que o comércio é controlado por grandes empresas transnacionais, que o controlam de forma monopólica e, por isso, vão controlar os preços para aumentar suas taxas de lucro. Muitos insumos usados são importados e dependentes do petróleo e, por isso, vão aumentar de preço.
Podemos dizer que para gerir uma crise requer-se a unidade e a coesão do povo de um determinado país, e claro, custa também a sapiciência dos seus líderes que tem como missão e responsabilidade de estado definir politicas e gerir um determinado país.
Portanto, não é mensurável o valor de uma crise a nível previcionista quantitativo objectivo, pois não é mensurável prognosticar taxativamente o valor da crise económica que o nosso país vive, pois as crises económicas afectam os sectores politicos, sociais e económicos de um determinado país.
Quanto a adopção de algumas medidas para a reduzir a dimensão das suas consequências, podemos implementar estratégias para a redução do modelo de dependência do consumismo industrial externo, propriamente a importação (que realisticamente o prognóstico revela que não acabará nos próximos 4 á 5 anos) e de submissão ao sistema financeiro, aos bancos e transnacionais, para adoptarmos um outro tipo de economia, de maior valorização da produção industrial e agrícola interna (que realisticamente o prognóstico revela que não estará activa na dimensão nacional, nos próximos 3 anos, mas que temos de começar de alguma forma) assim como da elevação dos mecanismos de poupança interna para o fomento da sustentabilidade.
Não entendi nada… Respondeu a criança em causa.
Perante a este argumento, refutei… Pois é, no teu caso é compreensível, tu és uma criança, a minha preocupação prende-se a nós adultos, que somos muitos que também não entendemos nada, talvez por ignorância, e propagamos aos quatro ventos que não existe crise nenhuma, o que chega a ser de tamanha irresponsabilidade, pois não é proibido sonhar, mas é preciso sonhar com os pés no chão, caso contrário arriscamos-nos a comer mortadela e arrotar peru…
A verdade porém, é que nós angolanos, só ganharemos o pão com o suor do rosto de cada um, isto é, temos de trabalhar mais…
Quanto ao valor da crise, refutamos, crise é crise, e o seu valor é taxado no grau de dificuldades que cada povo vivência no seu país. Este é o valor da crise económica que vivenciamos.