Bento dos Santos
Este é o segundo dos três artigos que me comprometi redigir,
sobre o tema: “Ameaças Internas e o Papel da Segurança de Estado”. Importa aqui
esclarecer o paralelismo que emprega-se ao conceito de segurança de estado,
tema de maior conhecimento junto do senso comum, aqui abordado na mesma óptica,
sob alegação de serviços de inteligência.
Os últimos acontecimentos no contexto da segurança mundial
perante as acções dos terroristas em França no pretérito dia 13/11/2015, assim
como as acções terroristas desenvolvidas na Nigéria e no Egipto, e muito
recentemente a ocupação de um hotel em Bamako no Mali onde mais de cento e
cinquenta pessoas tinham sido feitas reféns e cerca de vinte e uma (21) pessoas
foram mortas, têm revelado a importância da necessidade da desmitificação de
temas ligados a segurança dos estados, junto da opinião pública, tanto no
contexto interno, quanto no contexto externo.
Tal facto deve-se ao risco de que nenhuma nação está isenta
da possibilidade de tornar-se vítima das acções dos terroristas espalhados pelo
mundo.
A alegação da necessidade da desmistificação de alguns temas
ligados aos objectivos dos serviços de inteligência deve-se ao facto de que
muitos são os que pensam que os temas ligados aos serviços de inteligência estão
sempre associados a aventuras baseadas na espionagem e por ai adiante. Talvez
porque os filmes tratam destes temas associando-os quase sempre às aventuras subsidiadas
nas técnicas de publicidade e marketing, sob uma perspectiva futurística o que
acaba por incidir ainda mais o tabu do enigma do que é realmente o âmbito dos
serviços de inteligência.
Porém, na vida factual o papel dos serviços de inteligência
de um determinado estado não se limitam apenas na troca de informações,
tão-pouco em acções operacionais de âmbito preditivo ou preventivo.
Para facilitar a elucidação
da nossa abordagem recorremos a alguns antecedentes históricos aliados ao tema.
Podemos partir do período da Idade Média onde as informações continuaram a ser utilizadas, quase
que exclusivamente, com objectivos militares e com características muito mais
defensivas do que na antiguidade. Os reis e os chefes militares entendiam que as
contendas armadas deveriam travar-se apenas entre cavalheiros, não admitindo o
emprego de espiões como eram entendidas limitadamente, na época, tais
actividades eram para se conhecer o inimigo.
Daquela época, pouco se tem efectivamente
sobre o uso das informações. A não ser abordagem nítida de contra-informar que
se constata no tratado militar “DERE MILITARI”, escrito por Flavius Vegetius
Renatus, e que tem muito valor até Napoleão.
Na Idade Moderna, durante o
Renascimento e com o advento dos Estados modernos, a actividade de Inteligência
passou a ser desenvolvida de forma contínua e de modo generalizado.
Estabeleceu-se o hábito de troca de agentes diplomáticos entre os principais
Estados da Europa. Está prática de interesse das maiores potências, visando a
se obter informações sobre seus prováveis inimigos.
O valor das informações cresce primeiro
porque o homem passou a dispor de melhores meios de comunicações e segundo,
porque passou a ter necessidade de saber mais e mais oportunamente, enquanto a
evolução técnico-científica integra cada vez mais todas as actividades humanas
dentro dos grupos socais.
No período do pós-guerra, as informações
passaram a exercer grande influência nos acontecimentos em geral, provocando
até mesmo, e somente devido a elas a mudança no equilíbrio político. É no
período da Guerra Fria que as informações constituem verdadeira arma, se não
forem a principal entre todas.
Entretanto, o fim da Guerra Fria tinha posto fim a questão ideológica
que durante muitos anos fez com que as maiores potenciais mundiais gladiam-se
entre si. No entanto, muito embora ainda não se tenha inimigos bem definidos,
entre às maiores potenciais mundiais, surge também uma nova Ordem Mundial,
caracterizada pelo fenómeno da globalização, onde os países ricos pretendem
ficar cada vez mais ricos às custas de sacrifícios, cada vez maiores, dos
países em via de desenvolvimento, ou ainda dos também estigmatizados como
países mais pobres. É com base a este contexto de interesses que interligam o
campo diplomático nas relações entre estados.
Aliada aos aspectos abordados no
parágrafo anterior que identifica-se também como objecto de actuação do campo
dos serviços de inteligência questões do âmbito da área criminal, o que exige
conhecimentos e dados sobre os criminosos em geral, “modus operandi” criminal,
área de incidência de delitos penais ou administrativos, pontos de receptação de
bens, uso e tráfico de drogas e de armas, o crime organizado, os crimes contra
o meio e estabelecimentos penais, dados sobre eventos públicos (esportivos,
culturais e políticos), manifestações públicas (sindicais, estudantis,
funcionário público, motorista de autocarros e táxi, minorias, torcidas organizadas
não governamentais, associações de bairro etc), crimes contra pessoas, crime
contra o património, demais crimes e contravenções penais.
Por este motivo, os serviços de
inteligência devem produzir informações precisas, seguras e oportunas de modo
eficaz, no momento preciso, no local com o valor adequado, em torno do facto ou
o evento e/ou elementos adversos devidamente configurados e identificados, e
com o indispensável amparo legal.
Tais conhecimentos devem relacionar as
circunstâncias de tempo e espaço dos factos e/ ou situações a que se referem,
exigindo um permanente e criterioso acompanhamento de suas variáveis e
implicações nos diferentes segmentos da sociedade.
Tendo por base os pressupostos que
norteiam a Teoria Geral do Sistema desenvolvido por Ludwing Von Bertalanffy,
pode-se entender como um Sistema de Inteligência (SI) como sendo o conjunto de
Órgãos de Inteligência (OI) que interagem entre si formando um todo regular e
estável, tendo como objectivo maior, a produção de conhecimentos necessários à
correcta tomada de decisão aos formuladores e executores da (s) política (s) de
Segurança Pública. Todos sectores aqui referenciados constam no objecto de
actuação dos serviços de inteligência porquanto modelam a segurança nacional.
Contudo, a dimensão e a complexidade do
campo de actuação dos serviços de inteligência é simétrica aos distintos ramos
de especialidade dos serviços de inteligência. Outrossim, é preciso advertirmos
que as questões aliadas aos serviços de inteligência não se esgotam com a
elaboração de um artigo ou mesmo de um estudo mais aprofundado.
No entanto, as crescentes acções neste
campo, promovidas por forças adversas suscita-nos amplificar a necessidade de
promover a cultura de segurança nacional, junto da opinião pública, por formas
a que o nosso país não continue a ser fragilizado pela posição que muitos
cidadãos que optam por acções que comprometem a segurança interna e externa do
nosso país, sob pretexto de serem activistas da promoção da democracia ou da
liberdade de expressão ou do activismo dos direitos humanos, quando na
realidade os interesses e objectivos nacionais do nosso país “Angola” ficam
submetidos a um segundo plano, o que acaba por prejudicar os interesses da
maioria dos cidadãos angolanos.
Assim sendo, e mesmo sabendo-se que a
segurança é responsabilidade de todos, cabe aos serviços de contra-inteligência
tomar as medidas necessárias para evitar os comprometimentos no acesso,
prevenir vazamentos e detectar e neutralizar as ameaças de possíveis forças
adversas. Por isso, a actividade de contra-inteligência não se restringe às
acções desenvolvidas por um grupo de servidores especialistas, analistas e seus
auxiliares de contra-inteligência, mas por todos os integrantes da comunidade
de inteligência. É nesse contexto, que a actividade de inteligência revela a tomada
de decisão orientando a busca de conhecimentos oportunos, amplos e seguros,
imprescindíveis para á segurança e o desenvolvimento de qualquer Estado ou
instituição.
Sem comentários:
Enviar um comentário