domingo, 29 de abril de 2018

OLHAR POR DENTRO (1)

Por: Bento dos Santos
São várias as vezes que tentamos entender o que se passa a nosso redor. Geralmente quando assim o fizemos, o nosso olhar é direccionado para os outros.

Hoje proponho reflectirmos sobre a nossa condição de cidadãos comprometidos com a justiça social e porque não, cidadãos comprometidos com a mudança social que muitos ansiamos e na verdade pouco realizamos para que tal venha a ocorrer.

Como estamos?

Dar uma resposta directa a está pergunta, quando a mesma não se incide sobre a nossa saúde, por vezes torna-se um exercício de elevada complexidade. Como estamos... pensamos!

Com a falta de quase tudo, é possível respondermos que estamos bem?

Será?

A incidência da falta de condições sociais, quase já "soa à música"; a falta de energia eléctrica, a falta de água, o deficiente saneamento básico, o crime que ascende a cada dia em consequência dos vários factores psicossociais, nos leva a reflectirmos, e a resposta a pergunta - Como estamos? Sugere uma negação. Não! Não estamos bem!

O olhar por dentro que nos apraz analisar não é um conto de vigários. É antes de mais uma realidade latente. E podemos referenciar, desde o que comemos. Parece que só agora descobrimos que comemos lixo. Parece que, o que comemos é tudo falso. Comemos tipo frango, mas é de plástico; comemos tipo ovo mas é de plástico, até a couve; comemos tipo couve mas é de plástico... enfim!

Foi preciso um milagre chinês dar bandeira para descobrimos que afinal todas nossas doenças derivam daquilo que comemos.

Daqui a pouco, até nós, as pessoas, seremos tipo pessoas, mas seremos também de plástico!

Depois o olhar nos leva a vermos aqueles servidores públicos que dificultam o atendimento ao cidadão para fazer com que, quem necessita, ande a busca de outras soluções para contornar os obstáculos; e entenda-se estas outras soluções são geralmente a prática da corrupção. Aqueles servidores públicos que sabem que não merecem estar onde estão, e muitas vezes protegidos pelo compadrio vão simulando serem capazes; mas só fazem mesmo sob forma de reacção pois proactivos não são! Mas por ai andam; os tantos.

O olhar por dentro também nos mostra o próprio cidadão que muitas vezes faz-se de inocente, e ignorando os procedimentos e os requisitos que deve observar, tenta ludibriar os servidores públicos pondo-se na condição de vítima de todo um sistema aparentemente burocrático, mas que na realidade é ele que "tenta safar-se" como se diz na giria; e manda para as águas o interesse de todos. Aqueles cidadãos tidos como bué vivos, quando querem ocupar um determinado terreno, fazem-no ilegalmente, ocupando o espaço público sem cumprir com nenhum procedimento legal e depois lamenta: - " tenho filhos, o governo não me dá casa; vou viver aonde?!"...

E sob falso pretexto, depois surgem os defensores dos interesses. São os designados grupos de pressão, que a reboque das anormalidades sociais, integram as suas acções sob justificativa da promoção do combate das desigualdades sociais; e assim embalados vão pressionando o governo nas diversas áreas sociais.

É preciso ficar claro que o nosso olhar por dentro sabe que o governo não é uma instituição formada por "Santos Milagreiros". E ao olhar por dentro, nos lembramos que o governo manipula; e como manipula...

Os entendidos justificam que tal manipulação muitas vezes deve-se a necessidade de ter de manter a estabilidade social e preservar o bem maior fundamentado nos interesses nacionais. Até ai tudo bem!

Mas o olhar por dentro que nos faz teimosia, nos obriga a reflectirmos, e muitas vezes notamos que este bem maior, e nestas necessidades de preservação dos tais interesses, nós povo acabamos por ficar mais arregalados para o segundo plano. É só vermos como andam a inventar uma baita de medidas de impostos desesperados, que no nosso bolso onde nada mais resta, nada poderá sair...

Ainda estamos a olhar, se para quando sairá a autorização das viaturas de ocasião. Mas o nosso olhar nos diz que, este por ser assunto que pode mininizar os problemas do povo, os donos do olhar dizem: "- Isto é secundário. Depois trataremos isso"!

E o nosso olhar que de tanto ver apreende, sabe quanto tempo significa aquele depois... (...)

O olhar por dentro também leva-nos a analisar aqueles mais-velhos "da-muito-tempo" que como raposas ontem, hoje fazem-se de cágados, e com os seus passos lentos vão impedindo a progressão da juventude. E neste aspecto o olhar nos leva a uma contradição. A juventude não é a força motriz de um país?!

Se ela é esquecida ou posta para o segundo plano, a força motriz desde país provêm de onde?

Atenção! Não nos falem mal, só estamos a olhar! E, é por causa deste olhar que nos atrevemos fazer outras perguntas que andam por trás da porta. Pois não é segredo para ninguém, que apesar da vontade política manifestada pelo Presidente da República, João Lourenço, para que se promova e haja mais liberdade de expressão e de informação, a verdade verdadeira é que a maioria continua a falar por trás da porta; e assim o cinismo e a intriga que agora nos revela a nossa falsa pacificação, continuam a ter mais espaço. A minha mãe Dona Mena diria: "- São fofoqueiros e intriguistas os que assim procedem..."

Sobre o cinismo, temos o seguinte exemplo que sai por trás da porta: - " Milhares de jovens alegam que não têm tido a oportunidade que deviam ter. Dizem que não são nomeados para os cargos, e dizem mais... - " Alegam que quando os mais-velhos escolhem um jovem entre os milhares que andam na fila, fazem-no sem cumprirem com os melhores critérios de selecção".

Os jovens por trás da porta, dizem tantas coisas, que muitas vezes ao olharmos por dentro, não vimos nada que estes "super jovens" fazem, se não o velho hábito de se escudarem nas alegações que estão na moda, por exemplo: "- Eu sou mestre disto, estudei em Londres; eu estou a me doutorar em Portugal; eu isto, eu àquilo, bué de lata!

E quando olhamos, vamos lá em Londres, vamos lá em Portugal andamos também pelo outro lá, ver o que eles andaram a fazer de milagreiro por aquelas bandas; quando olhamos bem... nada!

 E como dizem as minhas cambas... é só mesmo xacho.  mandam bué de boca "Santos" mas não fazem nada!

O olhar por dentro também leva-nos a elas, desde as mais cobiçadas que se esquecem que o tempo leva a vaidade da beleza física, pois as pernas hoje torneadas e a pele relutante com o brilhar do sol infelizmente não irá perdurar para sempre; e entre os amores instantâneos  e os prazeres sexuais a que muitas se propõe, esquecem que há uma linha que não deve ser quebrada que é baseada no respeito da própria dignidade que cada uma devia ter.

Infelizmente o olhar nos revela que para muitas isto não é importante é secundário. A prioridade agora é o momento de se safar dizem elas. E muitas alegam que os "onze minutos de prazer" não faz delas mercadorias. Dizem que a troca frequente de parceiros ou o amante que segredam, não constitui problema, até porque quando acontece o faz-faz usam o capacete de plástico. E minimizam dizendo: - "Apenas foi uma breve interação de dois corpos feitos de carne, nada ficou, ninguém tirou pedaço no outro" (...)

O olhar por dentro também leva-nos a olhar para o copo! Não o copo vazio; sim olhamos para o copo da droga lícita, até agora designada álcool; que na paixão da relevância de muitos quererem mostrar que são "valentes e capazes" se acovardam promovendo a estupidez de querer agradar a todos, e ao tentar ser o "super do momento" geralmente acabam por agir como palhaços que todos vêem mas que ninguém acha graça, pois os sorrisos demonstrados  das palhaçadas surgem do cinismo que os invade naquele instante.

O olhar por dentro que fazemos referência também nos faz pensar que o petróleo que tanto nos orgulhava, afinal não é assim tão importante como gostaríamos que fosse. Afinal o petróleo é mesmo um produto esgotável e como o vinho que acaba no copo, o petróleo também acaba. Apesar do nosso ainda não 《acabar》a verdade é que ainda agora que nos deu algumas alegrias já nos fez acabar com a banga de lhe vender ao preço de lagosta, e nos tirou a vaidade de todos andarmos por ai como se fossemos pequenos magnatas.

O olhar por dentro também nos leva na educação. E nos mostra que estamos todos mal-educados; somos todos arrogantes pois não sabemos ouvir. Quem nos crítica, rapidamente lhe atestamos o rótulo de nosso inimigo. Não interessa quem seja; se é marido, se é a mulher, se é o irmão, se é o primo, se é o amigo; se nos criticou é porque não gosta de nós. Tem inveja e quer o nosso mal!

O olhar por dentro também nos faz ver que este é um problema oriundo da nossa educação. E os pais e os professores são os grandes responsáveis por esta situação, pois ao invés de despertarem as nossas mentes com as sábias orientações e nos ensinarem a sermos auto-críticos, não o fazem; apenas nos tem ensinado a ser reféns do silêncio.

O nosso olhar por dentro que é teimoso e persistente, também nos revela que agora, o que esta na moda são as autarquias. As autarquias não são roupas; nem comida. São sim eleições que irão decorrer em espaços mais limitados da nossa configuração geopolítica. Talvez serão eleições municipais e distritais, ainda não se definiu ao certo. O nosso olhar nos desperta para que as autarquias sejam realizadas gradualmente. Entenda-se vão escolher alguns municípios e distritos que já têm condições para poderem realizar as eleições autárquicas, e os que ainda não reúnem as condições para o efeito ficaram para uma segunda etapa.

O nosso olhar nos faz ver que é sensato assim procederem. Afinal ainda não temos condições para tanto, entenda-se nem todos municípios e distritos têm condições para serem autarquias; e a ponderação recomenda que as mudanças bruscas provocam sempre resultados inesperados. Mas o nosso olhar nos avisa... as autarquias estão na moda!

O olhar por dentro também nos leva a política. Ou melhor aos actores políticos. Como andam as coisas lá por dentro?

Com está pergunta, o olhar ficou perdido! Já não vimos nada!

In: memorial do meu primo, "Fantasma Neto dos Santos". O único angolano que teve no seu nome uma verdade sobre a ressurreição: Fastasma!

Até depois!

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