Por: Bento dos Santos
São várias as vezes que tentamos entender o que se passa a nosso redor. Geralmente quando assim o fizemos, o nosso olhar é direccionado para os outros.
Hoje proponho reflectirmos sobre a nossa condição de cidadãos comprometidos com a justiça social e porque não, cidadãos comprometidos com a mudança social que muitos ansiamos e na verdade pouco realizamos para que tal venha a ocorrer.
Como estamos?
Dar uma resposta directa a está pergunta, quando a mesma não se incide sobre a nossa saúde, por vezes torna-se um exercício de elevada complexidade. Como estamos... pensamos!
Com a falta de quase tudo, é possível respondermos que estamos bem?
Será?
A incidência da falta de condições sociais, quase já "soa à música"; a falta de energia eléctrica, a falta de água, o deficiente saneamento básico, o crime que ascende a cada dia em consequência dos vários factores psicossociais, nos leva a reflectirmos, e a resposta a pergunta - Como estamos? Sugere uma negação. Não! Não estamos bem!
O olhar por dentro que nos apraz analisar não é um conto de vigários. É antes de mais uma realidade latente. E podemos referenciar, desde o que comemos. Parece que só agora descobrimos que comemos lixo. Parece que, o que comemos é tudo falso. Comemos tipo frango, mas é de plástico; comemos tipo ovo mas é de plástico, até a couve; comemos tipo couve mas é de plástico... enfim!
Foi preciso um milagre chinês dar bandeira para descobrimos que afinal todas nossas doenças derivam daquilo que comemos.
Daqui a pouco, até nós, as pessoas, seremos tipo pessoas, mas seremos também de plástico!
Depois o olhar nos leva a vermos aqueles servidores públicos que dificultam o atendimento ao cidadão para fazer com que, quem necessita, ande a busca de outras soluções para contornar os obstáculos; e entenda-se estas outras soluções são geralmente a prática da corrupção. Aqueles servidores públicos que sabem que não merecem estar onde estão, e muitas vezes protegidos pelo compadrio vão simulando serem capazes; mas só fazem mesmo sob forma de reacção pois proactivos não são! Mas por ai andam; os tantos.
O olhar por dentro também nos mostra o próprio cidadão que muitas vezes faz-se de inocente, e ignorando os procedimentos e os requisitos que deve observar, tenta ludibriar os servidores públicos pondo-se na condição de vítima de todo um sistema aparentemente burocrático, mas que na realidade é ele que "tenta safar-se" como se diz na giria; e manda para as águas o interesse de todos. Aqueles cidadãos tidos como bué vivos, quando querem ocupar um determinado terreno, fazem-no ilegalmente, ocupando o espaço público sem cumprir com nenhum procedimento legal e depois lamenta: - " tenho filhos, o governo não me dá casa; vou viver aonde?!"...
E sob falso pretexto, depois surgem os defensores dos interesses. São os designados grupos de pressão, que a reboque das anormalidades sociais, integram as suas acções sob justificativa da promoção do combate das desigualdades sociais; e assim embalados vão pressionando o governo nas diversas áreas sociais.
É preciso ficar claro que o nosso olhar por dentro sabe que o governo não é uma instituição formada por "Santos Milagreiros". E ao olhar por dentro, nos lembramos que o governo manipula; e como manipula...
Os entendidos justificam que tal manipulação muitas vezes deve-se a necessidade de ter de manter a estabilidade social e preservar o bem maior fundamentado nos interesses nacionais. Até ai tudo bem!
Mas o olhar por dentro que nos faz teimosia, nos obriga a reflectirmos, e muitas vezes notamos que este bem maior, e nestas necessidades de preservação dos tais interesses, nós povo acabamos por ficar mais arregalados para o segundo plano. É só vermos como andam a inventar uma baita de medidas de impostos desesperados, que no nosso bolso onde nada mais resta, nada poderá sair...
Ainda estamos a olhar, se para quando sairá a autorização das viaturas de ocasião. Mas o nosso olhar nos diz que, este por ser assunto que pode mininizar os problemas do povo, os donos do olhar dizem: "- Isto é secundário. Depois trataremos isso"!
E o nosso olhar que de tanto ver apreende, sabe quanto tempo significa aquele depois... (...)
O olhar por dentro também leva-nos a analisar aqueles mais-velhos "da-muito-tempo" que como raposas ontem, hoje fazem-se de cágados, e com os seus passos lentos vão impedindo a progressão da juventude. E neste aspecto o olhar nos leva a uma contradição. A juventude não é a força motriz de um país?!
Se ela é esquecida ou posta para o segundo plano, a força motriz desde país provêm de onde?
Atenção! Não nos falem mal, só estamos a olhar! E, é por causa deste olhar que nos atrevemos fazer outras perguntas que andam por trás da porta. Pois não é segredo para ninguém, que apesar da vontade política manifestada pelo Presidente da República, João Lourenço, para que se promova e haja mais liberdade de expressão e de informação, a verdade verdadeira é que a maioria continua a falar por trás da porta; e assim o cinismo e a intriga que agora nos revela a nossa falsa pacificação, continuam a ter mais espaço. A minha mãe Dona Mena diria: "- São fofoqueiros e intriguistas os que assim procedem..."
Sobre o cinismo, temos o seguinte exemplo que sai por trás da porta: - " Milhares de jovens alegam que não têm tido a oportunidade que deviam ter. Dizem que não são nomeados para os cargos, e dizem mais... - " Alegam que quando os mais-velhos escolhem um jovem entre os milhares que andam na fila, fazem-no sem cumprirem com os melhores critérios de selecção".
Os jovens por trás da porta, dizem tantas coisas, que muitas vezes ao olharmos por dentro, não vimos nada que estes "super jovens" fazem, se não o velho hábito de se escudarem nas alegações que estão na moda, por exemplo: "- Eu sou mestre disto, estudei em Londres; eu estou a me doutorar em Portugal; eu isto, eu àquilo, bué de lata!
E quando olhamos, vamos lá em Londres, vamos lá em Portugal andamos também pelo outro lá, ver o que eles andaram a fazer de milagreiro por aquelas bandas; quando olhamos bem... nada!
E como dizem as minhas cambas... é só mesmo xacho. mandam bué de boca "Santos" mas não fazem nada!
O olhar por dentro também leva-nos a elas, desde as mais cobiçadas que se esquecem que o tempo leva a vaidade da beleza física, pois as pernas hoje torneadas e a pele relutante com o brilhar do sol infelizmente não irá perdurar para sempre; e entre os amores instantâneos e os prazeres sexuais a que muitas se propõe, esquecem que há uma linha que não deve ser quebrada que é baseada no respeito da própria dignidade que cada uma devia ter.
Infelizmente o olhar nos revela que para muitas isto não é importante é secundário. A prioridade agora é o momento de se safar dizem elas. E muitas alegam que os "onze minutos de prazer" não faz delas mercadorias. Dizem que a troca frequente de parceiros ou o amante que segredam, não constitui problema, até porque quando acontece o faz-faz usam o capacete de plástico. E minimizam dizendo: - "Apenas foi uma breve interação de dois corpos feitos de carne, nada ficou, ninguém tirou pedaço no outro" (...)
O olhar por dentro também leva-nos a olhar para o copo! Não o copo vazio; sim olhamos para o copo da droga lícita, até agora designada álcool; que na paixão da relevância de muitos quererem mostrar que são "valentes e capazes" se acovardam promovendo a estupidez de querer agradar a todos, e ao tentar ser o "super do momento" geralmente acabam por agir como palhaços que todos vêem mas que ninguém acha graça, pois os sorrisos demonstrados das palhaçadas surgem do cinismo que os invade naquele instante.
O olhar por dentro que fazemos referência também nos faz pensar que o petróleo que tanto nos orgulhava, afinal não é assim tão importante como gostaríamos que fosse. Afinal o petróleo é mesmo um produto esgotável e como o vinho que acaba no copo, o petróleo também acaba. Apesar do nosso ainda não 《acabar》a verdade é que ainda agora que nos deu algumas alegrias já nos fez acabar com a banga de lhe vender ao preço de lagosta, e nos tirou a vaidade de todos andarmos por ai como se fossemos pequenos magnatas.
O olhar por dentro também nos leva na educação. E nos mostra que estamos todos mal-educados; somos todos arrogantes pois não sabemos ouvir. Quem nos crítica, rapidamente lhe atestamos o rótulo de nosso inimigo. Não interessa quem seja; se é marido, se é a mulher, se é o irmão, se é o primo, se é o amigo; se nos criticou é porque não gosta de nós. Tem inveja e quer o nosso mal!
O olhar por dentro também nos faz ver que este é um problema oriundo da nossa educação. E os pais e os professores são os grandes responsáveis por esta situação, pois ao invés de despertarem as nossas mentes com as sábias orientações e nos ensinarem a sermos auto-críticos, não o fazem; apenas nos tem ensinado a ser reféns do silêncio.
O nosso olhar por dentro que é teimoso e persistente, também nos revela que agora, o que esta na moda são as autarquias. As autarquias não são roupas; nem comida. São sim eleições que irão decorrer em espaços mais limitados da nossa configuração geopolítica. Talvez serão eleições municipais e distritais, ainda não se definiu ao certo. O nosso olhar nos desperta para que as autarquias sejam realizadas gradualmente. Entenda-se vão escolher alguns municípios e distritos que já têm condições para poderem realizar as eleições autárquicas, e os que ainda não reúnem as condições para o efeito ficaram para uma segunda etapa.
O nosso olhar nos faz ver que é sensato assim procederem. Afinal ainda não temos condições para tanto, entenda-se nem todos municípios e distritos têm condições para serem autarquias; e a ponderação recomenda que as mudanças bruscas provocam sempre resultados inesperados. Mas o nosso olhar nos avisa... as autarquias estão na moda!
O olhar por dentro também nos leva a política. Ou melhor aos actores políticos. Como andam as coisas lá por dentro?
Com está pergunta, o olhar ficou perdido! Já não vimos nada!
In: memorial do meu primo, "Fantasma Neto dos Santos". O único angolano que teve no seu nome uma verdade sobre a ressurreição: Fastasma!
Até depois!
domingo, 29 de abril de 2018
domingo, 22 de abril de 2018
Conflito Sírio Um Exemplo do Fracasso Mundial
Por: Bento dos Santos.
Quando em Fevereiro de 1945, nos Estados Unidos da América se criou a Organização das Nações Unidas (ONU) perspectivou-se promover e concretizar os objectivos de materializar a paz nos distintos países espalhados pelo mundo.
A criação da ONU derivou assim de uma segunda tentativa de se criar a união das nações com o propósito de estabelecer relações amistosas entre os países, após o fracasso de uma primeira tentativa, então realizada com a formação da Liga das Nações, ao fim da Primeira Guerra Mundial.
Assim, as conferências de paz realizadas no final da Segunda Guerra Mundial possibilitaram que numa primeira fase cinquenta países, excluindo os que haviam feito parte do eixo, assinassem o tão importante documento.
No conteúdo da magna carta, destacam-se os compromissos mundiais como: Nós, os povos das Nações Unidas, decididos: a preservar as gerações vindouras do flâgelo da guerra que por duas vezes, no espaço de uma vida humana, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade; a reafirmar a nossa fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, assim como das nações, grandes e pequenas”, tendo como primeiro objectivo manter a paz e a segurança internacionais e para esse fim: tomar medidas colectivas eficazes para prevenir e afastar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão, ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos, e em conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajustamento ou solução das controvérsias ou situações internacionais que possam levar a uma perturbação da paz.
Infelizmente, após cerca de setenta e três anos (2018-1945) a propagação dos conflitos pelo mundo, dão-nos uma realidade diferente, onde se assistem cenários aterrorizantes perante a incapacidade de muitos governos mundiais não conseguirem honrar com a preservação do bem maior que é a vida, e continuamente assistimos e vivenciamos guerras por quase todos continentes. E pela Síria sabe-se que:
- A Rússia, aliada do presidente sírio Bashar al-Assad, opta pela acção diplomática e ao mesmo tempo envia regularmente armas à Síria.
- Os Estados Unidos, à frente da coalizão árabe-ocidental, realizam bombardeios contra o denominado Estado Islâmico (EI) no Iraque e na Síria, afirmando que tem tido êxito no combate aos grupos terroristas que operam na Síria.
- A França e Grã-Bretanha que até então mantinham posições neutras, pois negavam intervir na Síria para não favorecerem indirectamente o regime do presidente Bashar al-Assad, após várias cogitações da possibilidade de bombardearem a Síria viriam a efectivar tal pretensão, sob pretexto do estado Sírio ter feito o uso de armas químicas sobre o seu próprio povo.
- Num outro contexto, após o acordo sobre o seu programa nuclear, o Irã pode desempenhar um papel chave na solução do conflito sírio como interlocutor internacional dado o grau de influência que este país tem na região.
Mas como a Síria chegou ao estado que se encontra na actualidade?
A história recente do início do conflito Sírio começa com a propagação das ondas de protestos oriundas da primavera Árabe. Em março de 2011, a população síria saiu às ruas das cidades do país, pedindo o fim do regime político comandado por Bashar Al-Assad. A não aceitação das reivindicações e a repressão efectuada pelas forças militares de Al-Assad aumentaram as tensões políticas, levando a oposição a empreender uma luta armada contra o governo.
Bashar Al-Assad chegou ao poder no ano 2000, após a morte do seu pai, Hafez al-Assad, que havia iniciado seu comando no país durante a década de 1970. Os dois representam os alauítas na Síria, uma minoria que professa o islamismo e compõe cerca de 10% da população. A organização política que sustenta o poder dos Al-Assad é o partido Baath, a renascença, que tem como parte de sua doutrina o nacionalismo árabe e o anti-imperialismo. Essa postura levou o país a se opor às políticas dos EUA no Oriente Médio, como também às acções do Estado de Israel, país que havia tomado do estado sírio as colinas de Golã, em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias.
Assim sendo, Bashar Al-Assad pretendeu que o seu governo inicia-se a implementação das medidas de abertura política, como a libertação de presos políticos; mas tais medidas se mostraram muito limitadas. Com a manutenção de limitações à participação política da população, os eventos da Primavera Árabe insuflaram ainda mais as acções da oposição ao regime. Assim a luta iniciou sob pretextos dos direitos da autodeterminação do povo sírio. Porém, os desdobramentos dos conflitos militares entre as forças da oposição e as forças militares do governo de Al-Assad passaram a envolver uma série de países, com interesses na Síria e no Oriente Médio.
Os países ocidentais, principalmente os EUA, França e Reino Unido, declararam apoio às forças de oposição, denominadas pela imprensa de forças rebeldes. O governo dos EUA inclusive chegou a reconhecer, em dezembro de 2012, a CNSOFR como representante legítima da Síria, pretendendo deslegitimar o governo de Al-Assad, e criou ainda o Grupo de Apoio Sírio (Syrian Support Group, SSG, em inglês), uma entidade destinada a angariar recursos financeiros e apoio não letal para apoiar o Exército Livre Sírio (ELS), a principal organização da CNSOFR. O ELS foi formado principalmente por desertores das Forças Armadas Sírias, que passaram para a oposição ao regime.
Existe também uma coalização forças ligadas a grupos islâmicos, cujos guerreiros, os mujahidin, estariam combater pelo jihad, a guerra santa muçulmana. Entenda-se que os grupos islâmicos estão organizados na Frente Síria de Libertação Islâmica, próximos à Irmandade Muçulmana; a Frente Islâmica Síria, que defende a instalação de um Estado teocrático no país. Todavia, além dos EUA, apoiam os opositores sírios de Al-Assad a Turquia, Reino Unido, França, Arábia Saudita, Qatar e Israel. O apoio desses países acontece de várias formas, principalmente através do envio de armas e na facilidade de transporte delas através das fronteiras.
Porém, tal como ocorreu com os demais países que tiveram manifestações da Primavera Árabe na Síria também se identifica a interferência de outros países, o que vem a tornar ainda mais complexo o processo que visa por fim ao conflito. E para nos lembrarmos, temos em mente que foi o apoio das forças ocidentais que levaram à queda do então presidente líbio Gadaffi.
Entretanto, apesar do isolamento do governo sírio, fortalecido após o apoio dado ao grupo islâmico libanês Hezbollah, em 2008, Al-Assad tem sido defendido pela Rússia, China, além do Irã, Líbano e Iraque.
Contudo, a busca para comprovar o uso de armas químicas, com gás sarín, por parte do exército de Al-Assad, não é propriamente um assunto novo por parte dos governos ocidentais. Em 21 de agosto de 2013, o governo do presidente americano Barack Obama tentou justificar um ataque aéreo à Síria tendo como fundamentação os mesmos argumentos que hoje se repetem, sem no entanto haver a comprovação de tais factos.
Tirando as suposições, até o momento não existem provas concretas que permitem acusar o governante sírio de crime contra a humanidade, mas esta parece ser a única forma de obter o aval da maioria dos países da ONU para o ataque à Síria.
Segundo o alto-comissário das Nações Unidas para Refugiados, Filippo Grandi, "os confrontos armados na Siria forçaram cerca de 5,6 milhões de pessoas a deixar o país em busca de segurança. Outras 500 mil tiveram de abandonar suas casas e vivem como deslocadas forçadas dentro do território sírio".
As condições de vida dos civis dentro da Síria são piores do que nunca, com 69% da população vivendo na pobreza extrema. O número de famílias que gastam mais da metade da sua renda anual com comida aumentou para 90%. Os preços dos alimentos são, em média, oito vezes mais altos do que os níveis anteriores à crise.
A maioria dos refugiados sírios em países vizinhos vive abaixo da linha da pobreza. Mais de três quartos dos refugiados nas áreas urbanas da Jordânia e do Líbano são incapazes de suprir suas necessidades básicas de alimentação, moradia, saúde e educação.
A proporção de crianças refugiadas na escola aumentou nos últimos anos. No entanto, 43% do 1,7 milhão de refugiados sírios em idade escolar não frequentam um centro de ensino. Os sistemas nacionais de educação pública nos países de acolhimento estão tendo de criar segundos turnos para acomodar estudantes sírios e precisam de mais apoio.
No meio de tanto choque para a emancipação do poder, o que não se diz sobre o conflito Sírio, é que a Síria parece ter tido o azar de ser escolhido como o campo do espetáculo para se travar a então ascensão da Rússia, no que diz respeito a recuperação da sua posição de potência hegemônica no contexto das super potenciais mundiais.
O desejo do presidente Vladimir Putin levar a solução do conflito Sírio pelas vias diplomáticas não tem tido sucesso, pois o real interesse dos países ocidentais não parece estar alineado a paz. É precisamente sob este manto escuro, que se intensifica a cada dia, que se anula a possibilidade da resolução do conflito Sírio.
Actualmente, passados cerca de sete (2018-2011) anos desde o início e vigência do conflito na Síria, podemos concluir que o conflito Sírio revela mais uma vez fragilidade da Organização das Nações Unidas no que diz respeito aos temas ligados a resolução de conflitos, considerando que para a resolução de conflitos os Estados podem adoptar
três formas básicas: persuasão, dissuasão e coerção. O que se constatou no caso Sírio foi a implementação da coerção no seu último estágio, com a realização da guerra no campo das operações, e dela hoje o povo Sírio vive as suas implicações e consequências. Razão para se reflectir se já não é tempo de se rever as estratégias para resolução de conflitos que são formuladas na ONU (...).
Até lá, a infeliz realidade reside no permanente fracasso que se mantém, dada a continuidade do conflito!
Quando em Fevereiro de 1945, nos Estados Unidos da América se criou a Organização das Nações Unidas (ONU) perspectivou-se promover e concretizar os objectivos de materializar a paz nos distintos países espalhados pelo mundo.
A criação da ONU derivou assim de uma segunda tentativa de se criar a união das nações com o propósito de estabelecer relações amistosas entre os países, após o fracasso de uma primeira tentativa, então realizada com a formação da Liga das Nações, ao fim da Primeira Guerra Mundial.
Assim, as conferências de paz realizadas no final da Segunda Guerra Mundial possibilitaram que numa primeira fase cinquenta países, excluindo os que haviam feito parte do eixo, assinassem o tão importante documento.
No conteúdo da magna carta, destacam-se os compromissos mundiais como: Nós, os povos das Nações Unidas, decididos: a preservar as gerações vindouras do flâgelo da guerra que por duas vezes, no espaço de uma vida humana, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade; a reafirmar a nossa fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, assim como das nações, grandes e pequenas”, tendo como primeiro objectivo manter a paz e a segurança internacionais e para esse fim: tomar medidas colectivas eficazes para prevenir e afastar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão, ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos, e em conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajustamento ou solução das controvérsias ou situações internacionais que possam levar a uma perturbação da paz.
Infelizmente, após cerca de setenta e três anos (2018-1945) a propagação dos conflitos pelo mundo, dão-nos uma realidade diferente, onde se assistem cenários aterrorizantes perante a incapacidade de muitos governos mundiais não conseguirem honrar com a preservação do bem maior que é a vida, e continuamente assistimos e vivenciamos guerras por quase todos continentes. E pela Síria sabe-se que:
- A Rússia, aliada do presidente sírio Bashar al-Assad, opta pela acção diplomática e ao mesmo tempo envia regularmente armas à Síria.
- Os Estados Unidos, à frente da coalizão árabe-ocidental, realizam bombardeios contra o denominado Estado Islâmico (EI) no Iraque e na Síria, afirmando que tem tido êxito no combate aos grupos terroristas que operam na Síria.
- A França e Grã-Bretanha que até então mantinham posições neutras, pois negavam intervir na Síria para não favorecerem indirectamente o regime do presidente Bashar al-Assad, após várias cogitações da possibilidade de bombardearem a Síria viriam a efectivar tal pretensão, sob pretexto do estado Sírio ter feito o uso de armas químicas sobre o seu próprio povo.
- Num outro contexto, após o acordo sobre o seu programa nuclear, o Irã pode desempenhar um papel chave na solução do conflito sírio como interlocutor internacional dado o grau de influência que este país tem na região.
Mas como a Síria chegou ao estado que se encontra na actualidade?
A história recente do início do conflito Sírio começa com a propagação das ondas de protestos oriundas da primavera Árabe. Em março de 2011, a população síria saiu às ruas das cidades do país, pedindo o fim do regime político comandado por Bashar Al-Assad. A não aceitação das reivindicações e a repressão efectuada pelas forças militares de Al-Assad aumentaram as tensões políticas, levando a oposição a empreender uma luta armada contra o governo.
Bashar Al-Assad chegou ao poder no ano 2000, após a morte do seu pai, Hafez al-Assad, que havia iniciado seu comando no país durante a década de 1970. Os dois representam os alauítas na Síria, uma minoria que professa o islamismo e compõe cerca de 10% da população. A organização política que sustenta o poder dos Al-Assad é o partido Baath, a renascença, que tem como parte de sua doutrina o nacionalismo árabe e o anti-imperialismo. Essa postura levou o país a se opor às políticas dos EUA no Oriente Médio, como também às acções do Estado de Israel, país que havia tomado do estado sírio as colinas de Golã, em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias.
Assim sendo, Bashar Al-Assad pretendeu que o seu governo inicia-se a implementação das medidas de abertura política, como a libertação de presos políticos; mas tais medidas se mostraram muito limitadas. Com a manutenção de limitações à participação política da população, os eventos da Primavera Árabe insuflaram ainda mais as acções da oposição ao regime. Assim a luta iniciou sob pretextos dos direitos da autodeterminação do povo sírio. Porém, os desdobramentos dos conflitos militares entre as forças da oposição e as forças militares do governo de Al-Assad passaram a envolver uma série de países, com interesses na Síria e no Oriente Médio.
Os países ocidentais, principalmente os EUA, França e Reino Unido, declararam apoio às forças de oposição, denominadas pela imprensa de forças rebeldes. O governo dos EUA inclusive chegou a reconhecer, em dezembro de 2012, a CNSOFR como representante legítima da Síria, pretendendo deslegitimar o governo de Al-Assad, e criou ainda o Grupo de Apoio Sírio (Syrian Support Group, SSG, em inglês), uma entidade destinada a angariar recursos financeiros e apoio não letal para apoiar o Exército Livre Sírio (ELS), a principal organização da CNSOFR. O ELS foi formado principalmente por desertores das Forças Armadas Sírias, que passaram para a oposição ao regime.
Existe também uma coalização forças ligadas a grupos islâmicos, cujos guerreiros, os mujahidin, estariam combater pelo jihad, a guerra santa muçulmana. Entenda-se que os grupos islâmicos estão organizados na Frente Síria de Libertação Islâmica, próximos à Irmandade Muçulmana; a Frente Islâmica Síria, que defende a instalação de um Estado teocrático no país. Todavia, além dos EUA, apoiam os opositores sírios de Al-Assad a Turquia, Reino Unido, França, Arábia Saudita, Qatar e Israel. O apoio desses países acontece de várias formas, principalmente através do envio de armas e na facilidade de transporte delas através das fronteiras.
Porém, tal como ocorreu com os demais países que tiveram manifestações da Primavera Árabe na Síria também se identifica a interferência de outros países, o que vem a tornar ainda mais complexo o processo que visa por fim ao conflito. E para nos lembrarmos, temos em mente que foi o apoio das forças ocidentais que levaram à queda do então presidente líbio Gadaffi.
Entretanto, apesar do isolamento do governo sírio, fortalecido após o apoio dado ao grupo islâmico libanês Hezbollah, em 2008, Al-Assad tem sido defendido pela Rússia, China, além do Irã, Líbano e Iraque.
Contudo, a busca para comprovar o uso de armas químicas, com gás sarín, por parte do exército de Al-Assad, não é propriamente um assunto novo por parte dos governos ocidentais. Em 21 de agosto de 2013, o governo do presidente americano Barack Obama tentou justificar um ataque aéreo à Síria tendo como fundamentação os mesmos argumentos que hoje se repetem, sem no entanto haver a comprovação de tais factos.
Tirando as suposições, até o momento não existem provas concretas que permitem acusar o governante sírio de crime contra a humanidade, mas esta parece ser a única forma de obter o aval da maioria dos países da ONU para o ataque à Síria.
Segundo o alto-comissário das Nações Unidas para Refugiados, Filippo Grandi, "os confrontos armados na Siria forçaram cerca de 5,6 milhões de pessoas a deixar o país em busca de segurança. Outras 500 mil tiveram de abandonar suas casas e vivem como deslocadas forçadas dentro do território sírio".
As condições de vida dos civis dentro da Síria são piores do que nunca, com 69% da população vivendo na pobreza extrema. O número de famílias que gastam mais da metade da sua renda anual com comida aumentou para 90%. Os preços dos alimentos são, em média, oito vezes mais altos do que os níveis anteriores à crise.
A maioria dos refugiados sírios em países vizinhos vive abaixo da linha da pobreza. Mais de três quartos dos refugiados nas áreas urbanas da Jordânia e do Líbano são incapazes de suprir suas necessidades básicas de alimentação, moradia, saúde e educação.
A proporção de crianças refugiadas na escola aumentou nos últimos anos. No entanto, 43% do 1,7 milhão de refugiados sírios em idade escolar não frequentam um centro de ensino. Os sistemas nacionais de educação pública nos países de acolhimento estão tendo de criar segundos turnos para acomodar estudantes sírios e precisam de mais apoio.
No meio de tanto choque para a emancipação do poder, o que não se diz sobre o conflito Sírio, é que a Síria parece ter tido o azar de ser escolhido como o campo do espetáculo para se travar a então ascensão da Rússia, no que diz respeito a recuperação da sua posição de potência hegemônica no contexto das super potenciais mundiais.
O desejo do presidente Vladimir Putin levar a solução do conflito Sírio pelas vias diplomáticas não tem tido sucesso, pois o real interesse dos países ocidentais não parece estar alineado a paz. É precisamente sob este manto escuro, que se intensifica a cada dia, que se anula a possibilidade da resolução do conflito Sírio.
Actualmente, passados cerca de sete (2018-2011) anos desde o início e vigência do conflito na Síria, podemos concluir que o conflito Sírio revela mais uma vez fragilidade da Organização das Nações Unidas no que diz respeito aos temas ligados a resolução de conflitos, considerando que para a resolução de conflitos os Estados podem adoptar
três formas básicas: persuasão, dissuasão e coerção. O que se constatou no caso Sírio foi a implementação da coerção no seu último estágio, com a realização da guerra no campo das operações, e dela hoje o povo Sírio vive as suas implicações e consequências. Razão para se reflectir se já não é tempo de se rever as estratégias para resolução de conflitos que são formuladas na ONU (...).
Até lá, a infeliz realidade reside no permanente fracasso que se mantém, dada a continuidade do conflito!
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