Por: Bento dos Santos
Quando o meu camarada olhou para mim, e disse-me: "-para de procurar adjectivos que embelezam isto... isto é bairrismo!"
Eu cheguei a ficar perplexo!
Vindo dele, um colega e amigo, tarimbado pelo carisma de ter sido apelidado de não ter papás na língua, podia se pensar que era mais um aforismo linguístico, então promovido pelo meu ilustre amigo Nkuvo. Mas não era bem assim!
Quer dizer; até era um aforismo, mas não se tratava simplesmente de um aforismo como tal, pois a palavra não se limitava a designar um pensamento moral. Era um pouco mais, era sim a enunciação de um novo paradigma, era a enunciação de um novo conceito assente numa nova forma, que algumas pessoas assumiram, perante a determinadas situações da vida cotidiana.
Sabemos que apesar das imensas acepções que podem derivar de uma mesma palavra, no que concerte ao comportamento das pessoas, temos que ter em atenção, que uma postura nem sempre pode ser confundida com o carácter de uma pessoa.
Pelo mundo, já foram e tem sido muitos os casos de pessoas notórias, como por exemplo as inúmeras situações protagonizadas pelo ex-presidente norte americano, Barack Obama, ou mesmo pelo Papa Francisco, e mais recentemente, cá no nosso país pelo Presidente Português, onde vimos figuras públicas a assumirem publicamente, posturas pouco comuns, que podiam ser mesmo classificadas como "inaceitáveis" para aqueles mais conservadores quanto identificam a falta da observância das regras protocolares, instituídas para regulamentar a gestão da imagem de determinadas figuras públicas.
É claro que este é um assunto polêmico, e não cabe a nós reprimir, tão-pouco temos capacidade de esgota-lo.
Porém, por ser um assunto, cuja dimensão e interesse se assiste para todos, nos importa sim, buscar decifrar as ilações que se podem aplicar na leitura semiótica dos tempos, onde se assiste a vontade dos políticos, e também dos demais interessados em acções mobilizadoras, que devem olhar para os sinais do tempo, e não se deixarem levar por aparências, pois no fim somos todos cidadãos do mundo, e nem sempre a nossa interpretação é a mais acertada para entender determinadas situações que vão ocorrendo nas nossas vidas.
Atente que, se por um lado se diz que o "bairrista" é uma pessoa desprovida de princípios éticos, cívicos e morais, e pode ser comparado a “um marinheiro bêbado”- que distribui o peixe para população a sua sorte, por outro, talvez melhor, se assiste a necessidade que as figuras públicas caracterizadas como pessoas simples, talvez sejam "populistas" um novo conceito em ascensão no contexto político, mas que não se apregoa a enunciação do tema deste texto.
Se hoje assistimos alguns "delírios" de satisfação pelo facto de vermos um presidente como foi caso do presidente português Dr. Marcelo Rebelo de Sousa a descortinar o seu protocolo, e a atender os anseios da população angolana, em assumir uma postura comum na convivência com os cidadãos angolanos, fica-se por se saber, como seria se tais acções fossem regulares, ou até onde iria a normalidade da convivência com os demais.
Em momento nenhum queremos dizer que o presidente vulgarizou a imagem presidencial, longe de nós tal pensamento, até porque para nós, é sempre melhor quando os políticos fazem política com o povo e para o povo. Mas a nossa profissão, não nos permite deixar de analisar também, o outro lado da moeda, onde se busca entender a permanente necessidade que os políticos têm de fazer política, produzindo factos políticos, que acabam por mobilizar os meios de comunicação social, e por esta via estratégica massificar a projecção de uma determinada imagem na esfera pública.
Se perguntar-mos como eram vistas as acções do actual Presidente Português, antes de ser o Presidente que é, certamente a memória teria que rebuscar na investigação, se houve casos similares que mereceram a cobertura da mídia.
Que fique assim expressa a nossa opinião. Foi bom ter visto o Presidente Português a comportar-se como pessoa comum que todos no fundo somos, foi bom olhar e saber que houve interacção do Presidente Português com muitos dos nossos concidadãos.
Foi bom o Presidente Português aumentar o valor da estima e da auto-estima que cada um de nós temos e devemos ter, nesta permanente luta de nos sentirmos cada vez mais importantes como pessoas.
Foi bom, e é bom, quando assim acontece; mas fica o recado, o Presidente Português não é, e não pode ser caracterizado ou classificado como uma pessoa bairrista, como aquele, ou como aquela, ou como ele, ou como ela, ou como eles, ou como elas...
Pois bairrista, todos gostariam de ser, talvez apenas para ganhar protagonismo; mas ser bairrista de forma permanente não se apregoa, pois é uma designação pejorativa que mais uma vez emerge dos desvios da língua que frequentemente ocorre.
quarta-feira, 27 de setembro de 2017
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