terça-feira, 17 de novembro de 2020

NA INTERNET TODOS FALAM, MAS A MAIORIA FALA SOBRE O QUÊ?




Por: Bento dos Santos

Nos livros Comunicação e Opinião Pública (2016) e Comunicação Para Mobilização Social, Pressupostos Para Acções Colectivas (2019) abordei a questão do excedente de informações que se produz na internet. 

Recentemente, em uma entrevista concedida num programa radiofônico defendi a necessidade das instituições de ensino, procederem a actualização dos seus programas curriculares para poderem capacitar os estudantes a terem mais conhecimentos sobre o quê, como, e se possível quando devem consumir determinadas informações na internet. 

A reflexão se incide sobre a necessidade de poder ser criada uma disciplina que pudesse capacitar os alunos ou os estudantes a avaliarem o tipo e a qualidade dos conteúdos que devem consumir na internet. Até o momento este pensamento não passa de uma idéia que nos próximos tempos poderá ser assumida por outras pessoas. 

Entretanto, o excedente de informações que têm sido produzidas e disseminadas nas redes sociais, tem alcançado dimensões e níveis de preocupações que por vezes, torna muitos consumidores dos conteúdos do universo da internet como se fossem bonecos de recreação. Cada um a sua maneira, escreve, faz a sua publicação, partilha, defende o que pensa, ou defende "o que pensa que pensa" e assim se concretiza a 《dita democracia》. 

O excesso de informações na internet faz-me lembrar o registo histórico bíblico da Torre de Babel. Neste particular, creio que sejamos muitos os que sabemos o que geralmente acontece quando todos falam ao mesmo tempo. Na verdade a experiência de vida nos tem ensinado que "quando todos falam ao mesmo tempo acabam por criar ruído e o processo de comunicação fica comprometido, tendo em atenção que a mensagem é distorcida e os interlocutores da suposta comunicação acabam por não se entenderem.

Sem regras, sem limites, sem qualquer tipo de organização, na internet o que parece ser o melhor para cada um é fazer o que quer. Talvez sob forma de exemplo de classificação seja a designação de uma nova Torre de Babel, pois na internet de uma ou de outra forma (com escrita, vídeos, etc) todos falam. Mas será que todos que falam na internet têm sido ouvidos?

E caso estejam a ser ouvidos será que são percebidos?





 

domingo, 15 de novembro de 2020

A PANDEMIA DAS NOTICIAS FALSAS

Por: Bento dos Santos.

Quantas notícias falsas você lê diariamente? 

Trinta, cinquenta ou apenas dez? 

Na actualidade, com o surgimento e desenvolvimento da internet e das redes sociais ficou mais difícil sabermos exactamente o número de notícias ou informações falsas que chegam ao nosso conhecimento diariamente. 

Desconhecendo a dimensão do excedente de informações falsas que chegam ao vasto público a todo instante, surgem as consequências. Uma "pandemia de informações falsas" tem dominado a atenção do vasto público usuário das redes sociais. 

Os meios de comunicação social tradicionais (a televisão, rádio, jornais, revistas, etc) não tem conseguido acompanhar a velocidade da produção da informação em tempo real, deixando a mercê de quem se acha no direito de filmar, fotografar, escrever e publicar o que acha ser do seu direito de liberdade de informar e de ser informado, perante a vigência da democracia e das liberdades constitucionais. 

Com a possibilidade do livre arbítrio de "cada um fazer o que quer" a pandemia das notícias falsas tem ganhado um amplo espaço de proliferação perante a indiferença da própria sociedade. 

A expressão "pandemia" tem a sua origem na língua grega "pandemías" que na língua portuguesa significa "todo povo". A expressão em causa "pandemia" é usada nos termos técnicos da saúde e para os profissionais de saúde uma "pandemia deve ser entendida em uma escala de gravidade devido o surgimento de casos mais delicados. A pandemia é assim caracterizada por uma epidemia que se espalha por diversas regiões do planeta". E como sabemos, a pandemia está também associada a epidemia que é o aumento considerável do número de casos de determinada doença em diversas regiões de um determinado país. 

Achamos oportuno fazer a distinção conceitual entre a "Pandemia e a Epidemia" para facilitar o raciocínio lógico de quem poder nos brindar com a sua atenção fazendo a leitura deste texto. 

Retomamos a questão de partida, mas antes vamos buscar subsídios argumentativos no conceito de aldeia global criado pelo filósofo canadense "Herbert Marshall McLuhan (1962)" em que o autor aborda que: "as novas tecnologias electrónicas tendem a encurtar a distância e o progresso tecnológico, reduzindo todo planeta à uma situação idêntica a que ocorre em uma aldeia; um mundo em que muitos estariam, de certa forma, interligados". 

O conceito de aldeia global nos remete a reflectir sobre o facto de que, através da internet em determinados momentos parece que estamos todos juntos e misturados. E assim, para a nossa surpresa, passamos a saber que a "pandemia das notícias falsas" não é nova. 

Para termos uma ideia do tempo da existência da "pandemia das notícias falsas" basta que cada um de nós faça um breve exercício de memória e se lembre de uma situação em que foi vítima de uma notícia ou uma informação falsa que circulou na sociedade virtual da internet e que chegou até o seu conhecimento. 

Diferente da pandemia da Covid-19 que submeteu abertamente o mundo a mercê do medo, a pandemia das informações e das notícias falsas é silenciosa e continua a fazer as suas vítimas a todo instante. 

Algumas vítimas desta pandemia acabam mesmo por perder a vida. Porém, por cá, não se conhece publicamente um estudo sobre as causas e as consequências das notícias falsas que podia servir de referência para podermos extrair os dados e partilharmos neste texto. 

Sabemos que as informações e as notícias falsas tem causado muitos dissabores as suas vítimas. É uma pandemia que esta a ser disseminada a nível mundial e uma das possibilidades, para podermos reduzir o seu campo de abrangência recai para a responsabilidade individual que cada um de nós devemos ter antes mesmo de virmos a consumir e partilhar informações que não conhecemos a credibilidade e a veracidade da fonte que nos remeteu a uma determinada informação. 

Outra possibilidade recai ao papel das instituições públicas que devem salvaguardar os direitos constitucionais consagrados a cada cidadão. Portanto, só será possível mantermos os níveis de sã convivência social, mantendo a disciplina e o rigor nas nossas acções. Caso contrário, é bem provável que continuaremos a ser meros disseminadores da "pandemia das notícias e informações falsas".