quarta-feira, 27 de setembro de 2017

O PRESIDENTE DOS OUTROS FOI BAIRRISTA?

Por: Bento dos Santos

Quando o meu camarada olhou para mim, e disse-me: "-para de procurar adjectivos que embelezam isto... isto é bairrismo!"

Eu cheguei a ficar perplexo!

Vindo dele, um colega e amigo, tarimbado pelo carisma de ter sido apelidado de não ter papás na língua, podia se pensar que era mais um aforismo linguístico, então promovido pelo meu ilustre amigo Nkuvo. Mas não era bem assim!

Quer dizer; até era um aforismo, mas não se tratava simplesmente de um aforismo como tal, pois a palavra não se limitava a designar um pensamento moral. Era um pouco mais, era sim a enunciação de um novo paradigma, era a enunciação de um novo conceito assente numa nova forma, que algumas pessoas assumiram, perante a determinadas situações da vida cotidiana.

Sabemos que apesar das imensas acepções que podem derivar de uma mesma palavra, no que concerte ao comportamento das pessoas, temos que ter em atenção, que uma postura nem sempre pode ser confundida com o carácter de uma pessoa.

Pelo mundo, já foram e tem sido muitos os casos de pessoas notórias, como por exemplo as inúmeras situações protagonizadas pelo ex-presidente norte americano, Barack Obama, ou mesmo pelo Papa Francisco, e mais recentemente, cá no nosso país pelo Presidente Português, onde vimos figuras públicas a assumirem publicamente, posturas pouco comuns, que podiam ser mesmo classificadas como "inaceitáveis" para aqueles mais conservadores quanto identificam a falta da observância das regras protocolares, instituídas para regulamentar a gestão da imagem de determinadas figuras públicas.

É claro que este é um assunto polêmico, e não cabe a nós reprimir, tão-pouco temos capacidade de esgota-lo.

Porém, por ser um assunto, cuja dimensão e interesse se assiste para todos, nos importa sim, buscar decifrar as ilações que se podem aplicar na leitura semiótica dos tempos, onde se assiste a vontade dos políticos, e também dos demais interessados em acções mobilizadoras, que devem olhar para os sinais do tempo, e não se deixarem levar por aparências, pois no fim somos todos cidadãos do mundo, e nem sempre a nossa interpretação é a mais acertada para entender determinadas situações que vão ocorrendo nas nossas vidas.

Atente que, se por um lado se diz que o "bairrista" é uma pessoa desprovida de princípios éticos, cívicos e morais, e pode ser comparado a “um marinheiro bêbado”- que distribui o peixe para população a sua sorte, por outro, talvez melhor, se assiste a necessidade que as figuras públicas caracterizadas como pessoas simples, talvez sejam "populistas" um novo conceito em ascensão no contexto político, mas que não se apregoa a enunciação do tema deste texto.

Se hoje assistimos alguns "delírios" de satisfação pelo facto de vermos um presidente como foi caso do presidente português Dr. Marcelo Rebelo de Sousa a descortinar o seu protocolo, e a atender os anseios da população angolana, em assumir uma postura comum na convivência com os cidadãos angolanos, fica-se por se saber, como seria se tais acções fossem regulares, ou até onde iria a normalidade da convivência com os demais.

Em momento nenhum queremos dizer que o presidente vulgarizou a imagem presidencial, longe de nós tal pensamento, até porque para nós, é sempre melhor quando os políticos fazem política com o povo e para o povo. Mas a nossa profissão, não nos permite deixar de analisar também, o outro lado da moeda, onde se busca entender a permanente necessidade que os políticos têm de fazer política, produzindo factos políticos, que acabam por mobilizar os meios de comunicação social, e por esta via estratégica massificar a projecção de uma determinada imagem na esfera pública.

Se perguntar-mos como eram vistas as acções do actual Presidente Português, antes de ser o Presidente que é, certamente a memória teria que rebuscar na investigação, se houve casos similares que mereceram a cobertura da mídia.
Que fique assim expressa a nossa opinião. Foi bom ter visto o Presidente Português a comportar-se como pessoa comum que todos no fundo somos, foi bom olhar e saber que houve interacção do Presidente Português com muitos dos nossos concidadãos.

Foi bom o Presidente Português aumentar o valor da estima e da auto-estima que cada um de nós temos e devemos ter, nesta permanente luta de nos sentirmos cada vez mais importantes como pessoas.

Foi bom, e é bom, quando assim acontece; mas fica o recado, o Presidente Português não é, e não pode ser caracterizado ou classificado como uma pessoa bairrista, como aquele, ou como aquela, ou como ele, ou como ela, ou como eles, ou como elas...

Pois bairrista, todos gostariam de ser, talvez apenas para ganhar protagonismo; mas ser bairrista de forma permanente não se apregoa, pois é uma designação pejorativa que mais uma vez emerge dos desvios da língua que frequentemente ocorre.

COM O NOVO PRESIDENTE COMEÇAMOS ASSIM

Por: Bento dos Santos
O dia 26 de Setembro de 2017, passou a constar nos registros da história política angolana. O facto que tutelou este dia como histórico, foi a formalização da alternância da liderança política.

A saída do então Presidente, Engenheiro, José Eduardo dos Santos deu lugar a uma nova liderança, saída das eleições realizadas a 23 de Agosto do mesmo ano, da qual o povo elegeu por maioria qualificada o candidato do partido MPLA, no caso, o agora investido e  Presidente, General João Manuel Gonçalves Lourenço.

O acto de investidura decorreu dentro das expectativas. Porém, entre os muitos factos que dai foram notórios, à que destacar a nova assunção do presidente cessante, a quem o povo angolano agradece pela dedicação e empenho ao longo dos anos, e que deixou de forma indelével feitos incontornáveis como é o caso da conquista da paz.

Com a realização do referido acto, outras situações se vislumbram; por exemplo, as expectativas em torno dos futuros dirigentes que vão formar o novo governo, que é um bom indicativo para sabermos, como o novo presidente poderá realizar na prática a "diferença do querer e fazer".

As vírgulas altas nas últimas palavras "diferença do querer e fazer" foram propositadas. Tal deve-se as perspectivas motivadas pelo povo, a quando do primeiro discurso do novo Presidente da República de Angola, o General João Lourenço. Na sua primeira intervenção como Presidente de todos angolanos, o Senhor Presidente reagiu quase como se estivesse sicronizado, com os apelos feitos pelo Juiz Conselheiro do Tribunal Constitucional, Dr. Rui Ferreira, sobre quem recaiu mais uma vez a missão de formalizar as leis constitucionais de investir o poder ao novo Presidente, tal como já havia ocorrido na investidura do mandato presidencial de 2012.

A alegria ou o manifesto da satisfação foi notória por parte de muitos cidadãos, e a ênfase em particular vai para os dirigentes cessantes, e quadros do MPLA, entre os quais, muitos agora alegam que com o novo Presidente, se espera que tudo vai mudar, e dão ênfase que vai mudar para “melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”... entretanto, este é também um problema!

Por conseguinte, muitos formadores de opinião também foram no mesmo diapasão. Porém tal alegação de previsão, contradiz as realidades políticas, pois querer não é fazer. Atente que nos parágrafos anteriores nos referimos a importância da análise da composição do novo governo. E porquê?

Porque com a composição do novo governo, iremos poder avaliar o perfil dos seus componentes e consequentemente poderemos ter uma ideia mais objectiva dos critérios que estiveram na base das acções do Senhor Presidente, e por conseguinte, poderemos melhor perspectivar que tipo de governação teremos.

E quanto a euforia do povo...
E quanto as perspectivas do povo?

Sobre estas questões temos de ter em atenção o seguinte: "existe um pensamento que tem sido confundido quando se diz que o povo faz política. O povo não faz política; o que geralmente acontece é que o povo é levado pelos políticos na política".

Esclarecendo, o povo é influenciado pelas acções políticas e as suas perspectivas dificilmente são atendidas pelos políticos, pois muitas delas são complexas em função da extensa dimensão do seu universo sempre condicionadas a factores de vária ordem…

Os discursos políticos são manifestações de intenções, e o povo geralmente os interpreta como compromissos de acções. Até ai pode-se entender; mas a verdade é que uma intenção não é uma acção.
Uma outra questão prende-se no binômio causas e consequências.

Atenção!

Não estamos aqui a analisar ou a desconstruir o discurso do Senhor Presidente. Apenas estamos a procurar contribuir, fazendo o nosso papel cidadão, de ajudar a quem quiser entender, o momento político que vivenciamos.

Dizíamos que durante o longo e cansativo discurso do Senhor Presidente, “que parece que ninguém até agora notou que os discursos do Senhor Presidente, são longos e chegam a ser cansativos” podemos perceber que o referido discurso fez inúmeras referências sob a forma das perspectivas que se tem, em resolver-se os problemas da corrupção, fome, pobreza assim como a emergente necessidade da valorização dos recursos humanos etc, etc.

Foram muitas as áreas mencionadas, das quais se levantaram várias perspectivas, e todas as perspectivas apontadas como possíveis de soluções positivas. Até ai tudo bem.

Aliás, não devemos ser cépticos, mas atenção, para resolvermos os problemas temos de ser realistas e concretos, e quando somos realistas e concretos geralmente atacamos as causas e não as consequências; o que chega a ser melhor.

Contudo, quando se busca resolver as consequências dos problemas sociais, acentua-se o risco de se implementar soluções efêmeras.

E no nosso caso, atacar as causas implica olhar para o único ser capaz de identificar, caracterizar, classificar e resolver os problemas; no caso deve-se olhar para o homem.

Somos nós, os únicos seres capazes de ajudar a tornar possíveis as perspectivas e aspirações suscitadas pelo Sr. Presidente, General João Lourenço transformando-as assim em acções.

Temos de parar imediatamente fazer uso da estratégia do culto da personalidade na busca da recompensa dos prêmios do favoritismo, pois esta cultura política, é a porta de entrada dos outros males sociais que nós já vivenciamos.

Fala-se das avaliações, baseando-se nos critérios da competências. Sinceramente...

Que critérios serão estes, se muitos detentores dos cargos políticos e executivos e tantos outros utentes de títulos académicos não têm feitos práticos que os tornariam credíveis para as responsabilidades que almejam?!

Temos um novo Presidente, e muitos são os que agora acomodam-se a espera que o Sr. Presidente pegue na varinha mágica e acabe com a fome, com a pobreza e que todos nós angolanos passemos a viver na utópica riqueza que temos.

A referida metáfora nos lembra da euforia a quando da eleição do primeiro presidente negro nos Estados Unidos. Na ocasião muitos africanos festejaram e outros tantos pensaram que agora sim, seriamos todos americanos, e o presidente americano iria privilegiar a resolução de todos problemas africanos; não é preciso escrever sobre a dimensão da decepção que tiveram...

Conseguir o que se quer, significa tomar decisões que se tem de tomar de forma a obter-se o que se quer; é preciso termos os pés no chão e pararmos de sonhar quando devemos estar acordados.

Precisamos que a nossa política seja mais realista e concreta, por exemplo, não faz sentido manter-se a proibição da exportação de peças de viaturas, não faz sentido não podermos importar carros com mais de cinco anos, estas proibições têm impacto negativo na economia e tem consequências directa na vida das populações. E podemos citar algumas; com a falta de peças aumentam os roubos de viaturas para serem desmontadas e vendidas a retalho; com a falta de importação de viaturas temos maior dificuldade na mobilidade da população e reduz-se os postos de trabalho que este segmento de negócios geralmente proporciona. E não nos venham falar da fábrica de montagem das viaturas chinesas, porque todos nós sabemos a dimensão da necessidade de corrigir o que está mal neste particular, pois nem os chineses gostam e aceitam usar tais carros.

Certamente tal lei foi aprovada para salvaguardar interesses de grupos, mas acabou por prejudicar a maioria. E brevemente ainda teremos problemas semelhantes com a tal história das chapas de matrículas electrónicas.

São situações como as que aqui exemplificamos que podem dar uma visão de uma governação para o povo.

Por enquanto ficamos por aqui, na perspectiva de contribuir, participando na melhoria do que está bom e corrigindo o que esta mal.