Bento dos Santos
Nos últimos tempos tenho reflectido de
forma invertida sobre uma contradição comum, principalmente no que diz respeito
a algumas abordagens públicas sobre a juventude. É comum ouvir dizer que é na
juventude onde vive-se a etapa dos principais conflitos, onde a rebeldia e a
busca pela auto-independência, a etapa da busca do amor, da suposta liberdade
(…); Contraditoriamente, escuta-se também os argumentos factuais « » que são os
jovens o futuro das sociedades, a continuidade das nações.
Pior do que isto, assiste-se em
inúmeros casos os jovens a adoptarem o espirito integrante de rebanho que
compreende em sentir-se igual e aceite pela maioria dos jovens da sua faixa
etária, perante ao cinismo e a autoritária disposição de tudo ceder em troca de
ser aceite pelos outros do mesmo grupo.
Não é difícil recordar-se dos
argumentos regularmente apresentados por muitos jovens que ao tentarem
justificar-se das suas debilidades recordam-se, dizendo: - “Sou jovem, deixa-me
viver a minha juventude” ou ainda, “sou jovem, por isso devo vestir assim” ou “deixa
lá, são jovens, por isso fazem isto e aquilo…”.
Enfim, é uma imensidão de episódios que
surgem, num momento ascendendo responsabilidades para os jovens e em outros
justificando que talvez nesta etapa da vida se ajustaria dizer: - “Somos jovens
crianças, por isso não podemos assumir estas e aquelas responsabilidades ou
estas e aquelas consequências das nossas acções”!
Outra questão que parece ascender no
seio da juventude actualmente, principalmente pela vaga das redes sociais mais
concretamente pelo Facebook e o WhatsApp é o novo fenómeno social dos “opinam
sobre tudo”… Actualmente, parece que a juventude angolana acordou com a
sabedoria do emblemático “Professor Pardal”. Muitos dos jovens internautas
revelam-se superdotados e mesmo sem estudos para tudo, pois a preguiça actualmente
parece ser mais forte do que o culto da humildade que significa ter senso do quê
real. Actualmente, assiste-se na juventude a obscuração do culto universal da
verdade óbvia ao ponto de que todo mundo aparentemente já acha natural que,
pelo facto de estar numa determinada rede social, independentemente dos seus
conhecimentos sobre um determinado tema, o individuo já tem opiniões sobre
todas coisas e miraculosamente, elas estarão mais certas do que ás dos seus
progenitores e as dos seus avós.
Infelizmente, adivinha-se que o
resultado desta crença generalizada poderá ser desastrosa, pois como sabemos
pela história, todos movimentos totalitários e genocidas dos últimos séculos,
entenda-se nazismo, fascismo, extremismo islâmico, entre outros, foram criados
por jovens, e a sua militância foi aderida maciçamente nas universidades.
A pergunta: Não deviam ser os
jovens (retórica extraída do livro Pensar Social, Exercer Cidadania) a quem
lhes são incumbidas as responsabilidades do futuro de um determinado país,
serem os maiores detentores da moralidade, da responsabilidade, ao invés de
moldar-se aos caprichos da maioria onde opta pela supressão da sua
personalidade?
Infelizmente não é caso.
Contrariamente, o quê comum é ver-se os jovens a optarem pelo mundo da
generalidade, no qual ontem adolescente emergido do pequeno mundo doméstico,
pede acesso e para tal tem de optar pela adopção de simbolismos, gestos,
olhares, códigos, tudo num aprendizado baseado na imitação literal e servil e
sem questionamentos, se não optando pelo conformismo do “sou jovem” por isso
devo e faço isto e aquilo…
E como adivinha-se o fracasso porque o
grupo geralmente está desorientado, não é de espantar que as consequências do
estágio nos grupos onde entre: bebedeiras ao sexo desregrado e com
consequências que se adivinham entre a gravidez indesejada, até a celebração
dos casamentos prematuros, porque tem receio de vir a ser apenas tia, às
consequências como redigia caiem para o pode expiatório providencial de todos
fracassos, no caso a família.
Tal acontece, porque a família os
aceita como crianças e a sociedade os dá margem de erro com o argumento de
facto de serem apenas jovens (…);
Os jovens a quem os seus julgamentos de
juízo são quase sempre a inversão completa da realidade, os jovens que acham
que estar a ler um livro ou artigo é um passatempo enfadonho, os jovens que
acham que namorar baseando-se na conversa é burrice é coisa dos boélos ou
velhice precoce, os jovens que acham que a melhor forma de celebrar o ano novo
é fazendo sexo para entrar em grande, os jovens que acham que agora que terminaram
a licenciatura o mundo estará aos seus pés, os jovens que acham que os seus
pais já trabalharam o suficiente e eles como filhos só tem que herdar, os
jovens que acham que já podem ser grandes chefes porque tiravam muitas notas
altas durante a formação académica e quiçá profissional, os jovens que vestem
assim, os que cortam o cabelo assim, os que conduzem assim, os das grandes
máquinas e discotecas, os que têm bué de garinas, os que têm bons empregos, os
jovens que conseguiram apartamentos nas centralidades e ainda não tem mulher e
trocam de damas como se de roupa trata-se, as jovens que pensam que vão
continuar a ser à mais bala a vida toda, os jovens e as jovens que vão no
ginásio e ficam arrogantes assim-assim, os jovens que saem sempre com imagens
naquelas revistas que parece que nos alimentam mas não, é só fama na pobreza
mesmo, os jovens que pensam que revolução é só revindicar fazendo confusão e o resto
manda “lixar” os jovens que consumem drogas licitas, muita birra, e ilícitas, a
coca para dar n´ganza, porque pensam que assim estão na maior moda, a todos
estes jovens, saibam que arriscam a tutelar que um mundo cujo discernimento
esta nos jovens é um mundo condenado, pois não tem futuro!
A estes jovens o meu conselho agora que
fui para a velhice ao fazer os meus 66 anos de idade, digo-lhes: é preciso
primeiro saber para depois julgar, pois este deve ser o primeiro princípio do
dever de qualquer homem ou mulher responsável. A estes jovens fica-lhes a
tarefa de descobrirem que as coisas podem não ser o que parecem.
Sim, parece que para a juventude
angolana os conhecimentos cognitivos são coisas apenas para os velhos.
Esquecem-se que nesta altura o conhecimento só poderá servir para lhes informar
do que deviam ter feito e não o fizeram. E como o arrependimento não trás o
tempo de volta, então adivinha-se que os jovens no futuro fugiram o confronto,
abstendo-se de julgar-se do que fez ontem e do que agora sabe (…).
Pode-se dizer que a vida daquele que na
juventude em vez de esperar e buscar compreender, cedeu a tentação lisonjeira
do convite dos grupos das amizades e se tornou mais um, mais uma dos muitos que
apenas assistem a vida no futuro poderá ser tarde para voltar no tempo!
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