quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

LÍDERES POPULISTAS OU LÍDERES IRRESPONSÁVEIS?

 Por: Bento dos Santos


Inúmeros apoiantes do presidente cessante do Estados Unidos de América (EUA) Donald Trump invadiram no dia sete (07/01/021) o Capitólio dos EUA, forçando a interrupção da sessão do Congresso que certificaria a vitória de Joe Biden como o candidato vencedor das eleições presidenciais dos EUA. 

Nesta era da modernidade quando ocorrem situações desta natureza que envolve líderes de massas devemos fazer algumas análises quanto ao acontecimento descrito no primeiro parágrafo, relativamente ao nível de responsabilidade ou irresponsabilidade que alguns líderes mundiais vão tendo ao longo da história, quando de forma extremista e inconsequente decidem fazer o uso da palavra para expressar frases que ao ser assumidas como factor de comportamento das massas causam consequências negativas nas diferentes sociedades humanas. 

A mais recente e inconsequente irresponsabilidade discursiva do campo da política internacional, foi o pronunciamento feito pelo presidente Norte Americano Donald Trump. Com o seu jeito autoritário, sempre ávido pelo reconhecimento público, Donald Trump após tomar conhecimento da publicação dos resultados das eleições realizadas no seu país os EUA tornou público o que lhe ia na mente; e não aceitando os resultados afirmou que: “As eleições foram fraudulentas”. Alegando que os resultados das eleições então apresentados não correspondiam a vontade da maioria dos eleitores norte-americanos. 

Os resultados das eleições realizadas no dia 3 de Novembro de 2020 nos EUA concederam a Joe Biden o candidato do partido dos democratas, como sendo o candidato eleito ao cargo de novo Presidente dos Estados Unidos de América. 

O caso dos resultados das eleições presidenciais dos EUA não tem passado despercebido no contexto da formação da opinião pública internacional. Em parte, tal facto se deve pelo privilegiado posicionamento enquanto os EUA é uma potência mundial, e porque, muitas vezes se propaga que nos EUA vigora a democracia plena. Será? 

Convém reconhecermos que pelo mundo, são inúmeros os casos onde podemos identificar o poder de influência por meio do uso da palavra, o que tem merecido por parte vários estudiosos do campo da comunicação, e de outras áreas do saber, a devida atenção no campo da pesquisa, quanto a busca do entendimento dos factores, causas e consequências destas influências. 

Sem desprimor do que eventualmente ainda se pode dizer sobre o caso relacionado com o resultado das eleições presidenciais realizadas nos EUA, também nos interessa reflectir sobre algumas consequências oriundas da negação dos resultados das eleições por parte do presidente Donald Trump. 

Tenhamos a coragem de reconhecer que a tentativa «consumada» do assalto ao Capitólio, por parte dos apoiantes do partido Republicano e obviamente apoiantes do presidente Donald Trump, foi uma acção macabra, que segundo as informações publicadas pela imprensa o acto vil chegou a causar quatro mortos e vários danos materiais, e tão grave quanto os dá-nos revelados é a imagem negativa que se associa a falta de maturidade política colectiva de um grupo de cidadãos norte-americanos que revelam falta de cultura democrática para conviver na senda da diferença de opções políticas, o que belisca a suposta imagem então imaculada dos EUA ser o país da liberdade plena. 

Poucas horas antes da invasão do Capitólio, Donald Trump falou aos seus apoiantes em Washington para repetir que a eleição lhe foi “roubada pelos radicais democratas” e para os instigar a agir para “travar o roubo”. O balanço de quatro mortos, diversos dá-nos materiais e prejuízos financeiros devido a irresponsabilidade do líder de uma das maiores potenciais mundiais, deveu-se ao facto de Donald Trump enquanto candidato do partido Republicano e mesmo nas vestes de presidente dos EUA frequentemente fazer recurso aos chavões populistas, em detrimento da assunção de uma postura fundamentada na ética por formas a que, as pessoas possam conviver de forma sã. 

Pelo mundo, e porque não, no continente africano também tem sido comum alguns líderes das organizações políticas, em períodos eleitorais, após tomarem conhecimento do resultado das eleições, virem a tomar posições e atitudes similares a então adoptada pelo presidente cessante Donald Trump. 

Infelizmente quando alguns líderes tomam estas posições irreflectidas e fragmentadas em dogmas, em inúmeras ocasiões criam situações que acabam por causar a perca de milhares de vidas humanas, que mobilizados pelos apelos irresponsáveis destes líderes os seguem, e muitas vezes acabam por mergulhar na escuridão da manipulação colectiva, passando a viver as suas consequências até o ponto de perderem a vida. 

Portanto, fica a sugestão para os estagiários das lideranças políticas, assim como também para aqueles que são considerados como sendo os políticos seniores e porque não um apelo aos veteranos da política doméstica angolana: todo formador de opinião, enquanto influenciador de massas, deve ter a responsabilidade de conter e moderar os seus discursos e as suas intervenções públicas, por formas a acautelar os possíveis desvios que podem ocorrer na percepção das mensagens e dai poder advir várias consequências prejudiciais a sociedade. 

Falem para o povo pensando na heterogeneidade do povo, só assim poderão ter e manter a coerência discursiva. E por favor evitem fazer uso da instigação a violência discursiva para alcançar fins políticos, pois a percepção individual também é heterogênea, e muitas vezes quando vocês os políticos dizem "A nós o povo, com a nossa fome e os nossos problemas percebemos ATOA".