Por: Bento dos Santos
Tem se propagado nos últimos tempos na arena mediática angolana o fenómeno da produção de factos jornalísticos. As razões para a acentuação deste fenómeno são de vária índole, o que nem sempre é suficiente para os justificar, em função das inúmeras consequências que dele podem advir. No entanto, o seu surgimento e consequente proliferação impõem uma reflexão por parte da classe dos profissionais: Comunicólogos, Jornalistas e demais profissionais do mundo da Comunicação Social.
Reflectir sobre as causas e efeitos de tal fenómeno, não é uma prática nova, o que não descura a sua importância e actualidade, quando se perspectiva contribuir para o seu estancamento, por ser uma prática pejorativa no seio dos profissionais da classe.
Convém realçar que os factos e os acontecimentos são as formas pelo qual se incide o trabalho dos jornalistas. Diferente de os produzir, o profissional de comunicação social procura identificar os factos e acontecimentos por formas a dar-lhes tratamento jornalístico o que poderá resultar na produção de uma notícia, informação, publicidade, reportagens entre outros produtos dos géneros jornalísticos (…)
Em outra vertente, é preciso clarificarmos que o fenómeno denominado “Sensacionalismo” no mundo jornalístico não é recente, uma vez que a própria história da comunicação social, regista que os primeiros jornais norte-americanos (“Publick Occurrences”) e franceses ("Nouvelles Ordinaires" e "Gazette de France") tinham um caráter sensacionalista. Há mais de quarenta (40) anos que estudos conceituam a prática do sensacionalismo como uma imprensa que distorce informações, e procura sempre despertar sensações, ridicularizar as pessoas expondo-as em matérias de violência, escândalos, sempre utilizando ferramentas que possibilitem provocar ainda mais o interesse do leitor. Mas, há a dúvida, se esse conceito criado há várias décadas ainda serve. O sensacionalismo é usado de forma generalizada para rotular qualquer produto da mídia que provoque sensações.
Por outro lado, associar a palavra “boato ao sensacionalismo” é um exercício que se impõe quando emergimos no mundo da comunicação social, considerando que a palavra boato apresenta uma conceituação etimológica que faz alusão a noticia que corre publicamente, mas não confirmada (…) segundo o dicionário http://pt.wiktionary.org/wiki/boato
Manipular a informação de modo incompleto ou parcial e apresentar essa informação num formato exagerado, com objectivo de enganar o público-alvo são características principais que caracterizam o jornalismo sensacionalista. A exploração de notícias sensacionalistas em geral resulta em audiência. Além de termos e imagens sensacionalistas, esses veículos fazem também uso de outros recursos para manter uma proximidade maior com o leitor, por exemplo, espaços reservados para ouvir o público reclamar sobre problemas nas comunidades, serviços de utilidade pública em geral. O entretenimento também é um ponto forte nessa mídia. Notícia sobre famosos, apresentações culturais, shows, filmes, novelas, e diversos temas que possam “entreter” os leitores.
Foi com o entretenimento que surgiu a expressão “imprensa amarela”, o jornal New York World, publicava sempre aos domingos uma história em quadrinhos, e o personagem “era um menino, desdentado sorridente, orelhudo, vestido com uma camisola de dormir amarela. A fala do menino orelhudo vinha escrita na sua camisola e não em balões legendados como acontece genericamente nas histórias de quadradinhos.” (ANGRIMANI SOBRINHO, 1995, p. 21).
Por ter a roupa de cor amarela o menino personagem principal dos quadrinhos, ficou conhecido como “Yellow Kid”. O termo imprensa amarela pegou quando um jornalista escreveu um artigo se referindo à “imprensa amarela” de Nova Iorque, usando no texto um sentido pejorativo à cor.
Em Angola, alguns jornais impressos eram até bem pouco tempo os melhores exemplos deste tipo de jornalismo. Por meio de títulos excêntricos e reportagens fúteis, altamente atractivos para o público, devido à preferência do povo em assuntos polémicos aos factos de relevância pública e de espaço sócio cultural, numa primeira instância estes jornais visavam provocar polémica na sociedade e aumentar as vendas, tendo nos últimos tempos evoluído para o alcance de fins meramente políticos, associados ânsia do poder.
A evolução do “sensacionalismo” são limitou-se no campo do jornalismo impresso. Assiste-se actualmente no contexto social mediático angolano, a proliferação de tal fenómeno no espaço mediático cibernético. Sites, Blogues, Canais de Televisão e outros meios mediáticos eletrónicos têm sido a arena de proliferação de “Boatos” cuja dimensão se associa a perca dos valores éticos e deontológicos de uma profissão já muito banalizada na nossa praça.
A imprensa sensacionalista viola os princípios éticos do jornalista de sempre passar a informação de forma clara e verdadeira, a ponto de inventar histórias para se tornarem notícias com o intuito único e exclusivo de provocar polémica na sociedade. Entretanto, na coexistência do sensacionalismo e o mundo mediático, assiste-se como uma das principais causas, as barreiras de acesso as fontes, que muitas vezes permite a divagação conotativa de factos públicos, que carecem de esclarecimento mediático.
Noutra vertente o actual cenário social caracteriza o perfil da população como avida ao consumo das notícias sensacionalista, em função de distintos factores que sobre ela recai, como os factores culturais, sociais, económicos, demográficos, etc. Tal facto leva-nos a perspectivar que o “sensacionalismo” continuará a dominar o interesse da maior franja da população angolana, porque está contínua a se apresentar com necessidades psicológicas colectivas no que concerne ao consumo da informação adversa.
É consensual que o “sensacionalismo ou imprensa marron” empobrece cada vez mais o jornalismo no mundo. Pois além de relatar os factos, encontra-se entre as objectividades do jornalismo, a preocupação de propor soluções que ajudem a resolver os problemas apresentados socialmente.
Lançado o desafio que se caracterizou na identificação da pré-crise da credibilidade dos mídias angolanos, sugere-se o posicionamento da classe para estancar tal fenómeno. Quiçá um estudo mais aprofundado sobre o assunto não representaria um caminho a seguir (…)