domingo, 5 de dezembro de 2010

WIKILEAKS: O DESNUDAR DA ESPIONAGEM NO CONTEXTO INTERNACIONAL


O Domingo datado de 28 de Novembro de 2010, a organização Wikileaks divulgou mais de 250 mil documentos enviados a embaixadas espalhadas pelo mundo. As informações são as mais diversificadas, mas em geral abordam temas ligados a diplomacia externa, o que gerou um reboliço mundial, causando um forte constrangimento no Estado americano.
Ao longo da História, os estados sempre procuraram sobrepor a sua vontade traduzida em poder sobre os outros estados. Por cá, podemos nos recordar com sabor amargo das lutas entre grupos étnicos. A harmonia internacional é sazonal, não efémero olhar com devaneio os insucessos das maiores agências internacionais na luta para pacificação dos estados.

Da História universal suscita resgatar a situação da França. Antes da Revolução, França era um Estado pobre num país rico. A Revolução Francesa, ocorrida entre 05 de Maio de 1789 e 09 de Novembro de 1799, alteraram o quadro político e social da França.
Ela começou com a convocação dos estados gerais e a queda da bastilha e se encerra com o golpe de estado do 18 Brumário (segundo mês do calendário da primeira República Francesa, 23 de Outubrooutubro a 21 de Novembronovembro) de Napoleão Bonaparte.

Em causa estavam o antigo regime e os privilégios dos sacerdotes (clero) e da nobreza, conforme narrado no site: wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Francesa. A Revolução é considerada como o acontecimento que deu início à Idade Contemporânea. Aboliu a servidão e os direitos feudais e proclamou os princípios universais de "Liberdade, Igualdade e Fraternidade".

A partir dos acontecimentos de 1789, tem-se o crescimento da preocupação por parte dos estados com o que viria a estabelecer-se como segurança interna, com serviços secretos voltados particularmente em regimes autoritários, mas também em democracias estabelecidas ao controlo dos cidadãos. A Revolução Francesa é resgatada aqui, como macro histórico, em função do elemento ideológico ganhar força nos órgãos de segurança, sendo que os serviços secretos passaram a ser usados como arma fundamental no aparato ideológico e repressor do estado.

Assim foi que, no auge do terror da França revolucionaria operavam os “comités de surveillance”, encarregados de vigiar os cidadãos, apoiar as actividades políticas dos clubes republicanos e actuarem como “guardiões da revolução”. Os comités logo se mostraram um importante instrumento de repressão e intromissão do estado na vida privada.

Para dimensionar o que representava o aparato de inteligência no Império Napoleónico, convêm salientar que, a partir de 1804, diariamente, á excepção dos Domingos, Napoleão recebia um sumário de inteligência. Esse relatório abrangia desde estatísticas criminais e listas de presos, até tendências políticas domésticas e estrangeiras, passando por cartas interceptadas, agentes inimigos detidos, resultados de interrogatórios, especulação monetária, estado da opinião pública e dados sobre eventuais conspirações.

O século XX período da grande guerra a II guerra mundial, época que a actividade de inteligência alcançou o seu apogeu, estando presente nas relações entre povos e influenciando nas politicas internas e externas dos países, em tempos de paz ou de guerra, é considerado como o século dos espiões pelo quadruplo qualitativo da “intensidade, abrangência, profissionalização e popularidade”, motivo para rotular como o século XX como o século dos espiões.

As informações disponíveis no site Wikileaks poderá revolucionar o posicionamento da actividade de inteligência externa que esta rotulada pelo cinismo e a perfídia dos governos que entrelaçam as comunidades de inteligência. Os conteúdos dos documentos disponíveis ao público, não geraram ainda uma forte reacção da opinião pública, geraram sim uma crise incubada nas relações entre os estados. Comparado com o famoso “telegrama Zimmermann, que gerou pressão da opinião pública estadunidense pela declaração de guerra contra a Alemanha, o que veio a ocorrer em 06 de Abril de 1917.

Portanto, Wikileaks despoletou a fragilidade do secreto e do extremamente secreto, do modus operandi da inteligência externa. Sua dimensão é prognóstica ao seu escopo de actuação, a inteligência de acordo com Mark Lowienthal, baseando-se na percepção de Kent, é o “processo pelo qual certos tipos de informações importantes para segurança nacional, são requeridos, colectados, analisados e disponibilizados aos tomadores de decisão (Policymakers).

São notícias como as que seguem abaixo, que desnudam o secreto dos serviços secretos:
“A venda de caças para a Força Aérea Brasileira motivou autoridades americanas a fazerem um lobby e entrarem na disputa em uma das maiores licitações já feitas pela Aeronáutica.
Segundo documentos divulgados pelo site WikiLeaks neste domingo (5), a ministra-conselheira da embaixada americana em Brasília, Lisa Kubiskie, reconhece a vantagem da França na possível compra pela negociação direta do gabinete do presidente francês Nicolas Sarkozy. O governo Lula já sinalizou preferência por um modelo francês, o Rafale, que, segundo relatado por Kubiskie em uma das correspondências, usam "argumentos enganosos, senão fraudulentos".

Um dos trechos dos documentos revela recomendações da embaixada: tornar o relacionamento do Brasil com os Estados Unidos mais "pessoal" pra competir com a França, aproveitar o "bom contato com (Ministro da Defesa, Nelson) Jobim", "ligações entre os presisdentes (Barack) Obama e Lula" e "visita da secretária (de Estado, Hillary) Clinton ao País".
Até o comandante da FAB, Juniti Saito, teria sido alvo do lobby. Segundo os documentos, em encontro com o ex-embaixador americano Clifford Sobel, Saito indica sua preferência por equipamentos americanos. "Voamos no equipamento americano há décadas e sabemos que é confiável e que sua manutenção é simples e oferece bom custo/benefício", teria dito Saito, conforme relatado no documento. O comandante teria ainda pedido uma carta "assegurando transferência de tecnologia" até o "dia 6 de agosto".
O futuro ministro das Relações Exteriores do governo de Dilma Rousseff, Antonio Patriota, também é citado em um dos documentos. Em uma reunião com o atual embaixador dos EUA, Thomas Shannon, sobre o assunto, Patriota teria dito que a "não há decisão (de compra) tomada".” Fonte: Redação Terra.

Mugabe “velho maluco

Em documento de 13 de Julho de 2007, o representante em Harare diz que os EUA devem se preparar para o processo de mudança no Zimbábue e para ajudar a impulsioná-la. Afirma que a pobreza no país é, em muitos casos, resultados das medidas do governo para manter o poder a qualquer custo e aponta fraude nas eleições. Além disso, usa expressões pejorativas para falar do presidente, Robert Mugabe. Chega, por exemplo, a se referir ao governante africano como “aquele velho maluco”.


Trechos:

“Robert Mugabe tem sobrevivido por tanto tempo porque ele é mais esperto e cruel do que qualquer outro político do Zimbábue”.
“Em 2005, tendo sido obrigado a roubar a vitória manipulando o resultado das eleições que perdeu, Mugabe reagiu, novamente, punindo a população urbana com o lançamento da Operação Murambatsvina”.

Pré-revolução iraniana


Em documento datado de 13 de agosto de 1979, Bruce Laingen, diplomata americano em Teerã, desdenha do "enorme egoísmo que povoa a psique persa" ao observar a revolução no país. Segundo ele, seria possível explorar essa mentalidade em negociações com o novo governo. Menos de três meses depois, ele foi mantido refém na embaixada dos EUA por estudantes radicais, provocando uma crise no governo Carter.

Trechos:

“Talvez o aspecto dominante da psique persa seja um incrível egoísmo.”
“Há várias lições para aqueles que negociam com os persas em tudo isso: Primeiro, nunca se deve assumir que seu lado da questão será reconhecido, muito menos que serão concedidos méritos.”
“Deve-se estar preparado para a ameaça de colapso nas negociações a qualquer momento e não se intimidar por esta possibilidade.”

Ataque ao Irã!

Em documento de 20 de abril de 2008, o embaixador americano na Arábia Saudita relata que o rei Abdullah pediu às autoridades americanas que atacassem o Irã, para acabar com seu programa nuclear. Os Estados Unidos também são chamados a ampliar as sanções contra o país do Oriente Médio. No mesmo documento, o representante americano afirma que os sauditas estão dispostos a trabalhar em conjunto com os EUA para evitar a influência iraniana no vizinho Iraque.

Trechos:

"Ele falou para vocês (americanos) cortarem a cabeça da cobra."
"(...) frequentemente pediu aos EUA que atacassem o Irã para colocar um fim ao programa nuclear bélico do país.”
“Trabalhar com os EUA para reduzir a influência iraniana no Iraque é uma prioridade estratégica para o rei e seu governo.”

Golpe em Honduras


Em 24 de julho de 2009, cerca de um mês depois do golpe de Estado que tirou o então presidente Manuel Zelaya do poder, o relatório do embaixador americano no país latino tenta esclarecer algumas questões em torno da operação. O documento deixa claro que o representante dos EUA não tem dúvidas de que houve um golpe de Estado no país e que "os militares, a Corte suprema e o Congresso Nacional conspiraram no dia 28 de junho no que constituiu um golpe ilegal e inconstitucional contra o Executivo".

Trechos:

“A suposta carta de ‘renúncia’ era uma invenção e nem sequer foi a base para a ação do Congresso em 28 de junho.”
"Não há dúvida de que a chegada ao poder de Roberto Micheletti foi ilegítima."
"Não importa quais sejam os pontos fortes do caso contra Zelaya, sua saída forçada do país por parte dos militares foi claramente ilegal.”
Angela “Teflon” Merkel

Em documento de 9 de setembro de 2009, o embaixador americano em Berlim faz comentários depreciativos sobre a chanceler Angela Merkel. A alemã é chamada de "Teflon Merkel", tachada como "sem criatividade" e com uma atitude "reticente em assumir riscos". Sobra também para o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle. O diplomata americano questiona se o ministro teria conhecimento suficiente, além de classificá-lo como “agressivo e arrogante”.

Trechos:

“Chanceler Angela “Teflon” Merkel toma os holofotes enquanto o FDP espera nos bastidores.”
“(Westerwelle) ainda precisa aprofundar o conhecimento de questões de política de segurança e de negócios estrangeiros.”
O seu pensamento “tem pouca substância”, e é “vaidoso e exuberante.”

Brasil e o terrorismo


Documento de 4 de abril de 2008 mostra que os EUA suspeitaram que a então chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, teria cassado um projeto de lei para combater o terrorismo no Brasil. O projeto teria sido rejeitado por “questões ideológicas”. Outros telegramas enviados pelo embaixador americano, de 2009, indicam que imigrantes xiitas no País teriam recebido US$ 50 mil do Hezbollah. O dinheiro seria investido em comércio, e parte do lucro enviado ao grupo radical libanês. Entre os documentos sobre o Brasil estão ainda os que indicam que, segundo a Abin e a Polícia Federal, a ameaça terrorista no Brasil é real.

Trechos:

"Apesar de não podermos confirmar definitivamente que a Casa Civil cassou a iniciativa por motivos políticos ou ideológicos, isto é certamente plausível."
"Elementos radicais existem aqui, alguns na área da tríplice fronteira."

Chip em presos de Guantánamo


Em documento de 22 de março de 2009, o embaixador dos EUA em Riad informa sobre negociações diplomáticas a respeito dos prisioneiros de Guantánamo. O representante relata que o rei Abdullah, da Arábia Saudita, propôs implantar um chip nos detidos na base americana que retornassem a países caóticos, como o Iêmen. A medida oferecia, na opinião do monarca saudita, a solução perfeita para os temores de Washington de que os prisioneiros desaparecessem ou decidissem se juntar a uma organização terrorista.

Trechos:

“(...) o rei propôs a implantação de um chip eletrônico nos detidos com informações sobre eles, permitindo que seus movimentos sejam monitorados por Bluetooth. Isso foi feito com falcões e cavalos, disse o rei.”

“Cavalos não tem advogados, e esta proposta enfrenta vários obstáculos jurídicos nos EUA, mas concordei que o acompanhamento dos detidos é extremamente importante.”

Batman e Robin

Um dos relatórios do embaixador dos EUA na Rússia compara o primeiro-ministro Vladimir Putin e o presidente Dimitri Medvedev à dupla Batman e Robin. De acordo com o representante americano em Moscou, Dmitri Medvedev, "indeciso e pálido", é dominado pelo primeiro-ministro Vladimir Putin, um "macho alfa" que continua à frente de temas cruciais no governo, como o programa nuclear iraniano.
Trechos:
(A Rússia é um) "virtual Estado mafioso."
"A democracia russa desapareceu e o governo é uma oligarquia dirigida pelos serviços de segurança."
"Medvedev é Robin e Putin, Batman."
…entre outros…afinal são mais de 250 mil documentos, ainda estou a pesquisar, no sentido de encontrar os que falam sobre Angola.

No entanto, a inteligência externa é aquela voltada á identificação de oportunidades e ameaças relacionadas as capacidades, intenções e actividades de pessoas, grupos ou governos estrangeiros bem como de organizações internacionais e transnacionais. Assim a inteligência Externa está estreitamente vinculada a defesa Nacional e a Politica Externa de um país. A missão de cada serviço de inteligência externa varia conforme o país a que pertence e ao grau de inserção de seu Estado no cenário internacional. Não obstante, há um conjunto de atribuições que costuma a ser comum a maior parte dessas agências nomeadamente: dar apoio as politicas externa, de segurança e de defesa; identificar actividades externas que possam representar ameaça a segurança e aos interesses nacionais; guerra da informação privilegiada; apoiar a planificação da defesa; apoiar operações militares e a inteligência económica.


Hoje o mundo pode e sabe que a espionagem não se extinguiu com o fim da guerra fria, numa acção de contra inteligência genérica, Wikileaks destapou o véu do cinismo e a actividade dos serviços, como: M15 – Bristish Security Service, CIA – Central Intelligence Agency; ABIN – Agência Brazileira de Inteligência; BOSS – Bureau of State Security Service (África do Sul); FSB Federalnaya Sluzhba Bezopanosti (Serviço Federal de Segurança – Federação Russa), entre outros, existem e continuaram a existir.

Logo, os destapados pela Wikileaks podem ir tapar-se nos seus países, não vão querer apelar ao inglorioso e desmedido bom senso politico, ou não! Podem ficar, assim já se conhece o inimigo, e é mais fácil domina-lo ou derrotar-lhe.

Motivo para dizer, nem todos, são nossos…

Epá! Não escrevi politica, pois não!

Bento José dos Santos
Licenciado em Comunicação Social
Especialista em Estratégias Para Rentabilidade Institucional
Mestrando em Direito da Comunicação